Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bolsonaro colhe resultados nos EUA, mas faz concessões generosas

Apoiar ação militar na Venezuela seria como vender a alma brasileira em outlet de Miami

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Na semana passada, Ernesto Araújo disse que a política externa brasileira não pode se reduzir “simplesmente a uma questão comercial”. O alvo era a China e a intenção era repisar o realinhamento ideológico do Itamaraty no governo Bolsonaro. “Queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma”, disse o chanceler.

Almas e dólares são moedas correntes nas relações internacionais. Em sua visita aos EUA, o presidente brasileiro fez gestos de reverência a Donald Trump em troca de sinalizações positivas dos americanos. Bolsonaro colheu resultados que tornam o encontro bem-sucedido, mas também fez concessões generosas.

A sintonia política entre os dois líderes estimulou a costura dos acordos. A criação de um fórum de energia para facilitar investimentos e o pacto de troca de informações entre Polícia Federal e FBI são produtos concretos dessa parceria. No campo simbólico, os EUA anunciaram a intenção de designar o Brasil como um aliado prioritário fora da Otan.

Além disso, a comitiva brasileira volta com o apoio público de Washington à entrada do país na OCDE. Até então, os americanos resistiam a dar esse aval. Bolsonaro considera a questão um trunfo, pois a filiação ao órgão tende a estimular a atração de capital estrangeiro.

O Brasil teve que abandonar posições estratégicas. Em troca do patrocínio para a OCDE, o governo aceitou abrir mão do tratamento especial a que tem direito na Organização Mundial do Comércio. A equipe brasileira também concordou em zerar a tarifa de importação de uma cota anual de trigo americano.

Em outro aceno, Bolsonaro se desviou da linguagem oficial e criou dúvidas sobre a possibilidade de apoio a uma eventual ação militar americana na Venezuela. O cenário é rechaçado pelos generais brasileiros.

A relação entre os dois presidentes pode render bons frutos na área comercial. Entrar numa aventura bélica para fazer dupla com Trump, porém, seria vender a alma brasileira num outlet do subúrbio de Miami.
 

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