O vereador Leonel Brizola (PSOL) decidiu fazer um agrado ao camarada Kim Jong-un. No fim de novembro, o neto do ex-governador apresentou na Câmara Municipal do Rio uma moção de louvor ao tirano que comanda uma das ditaduras mais repressoras do mundo.
A justificativa para a homenagem, noticiada pelo jornal O Globo, era o trabalho do líder sanguinário “na luta pela reunificação da Coreia e a necessária busca da paz mundial”, nas palavras do gabinete de Brizola.
O autor da exaltação pode ser só um vereador sem expressão nacional, mas o caso se soma a um ambiente político em que parece rotineiro celebrar regimes autoritários.
As atrocidades do líder norte-coreano são tantas que enchem páginas e páginas de relatórios da ONU. Um deles, de 2014, listava políticas de extermínio, tortura, abortos forçados, estupro, desaparecimento e muitas outras barbaridades.
Kim usa a crueldade como método. Mandou matar mais de 300 pessoas desde que chegou ao poder, em 2011. Um vice-ministro foi enviado ao paredão de fuzilamento por ter se comportado de maneira desrespeitosa. Um general que cochilou durante uma reunião foi executado com uma arma antiaérea. O vereador deve conhecer essas histórias.
Talvez até os norte-coreanos tenham ficado surpresos com a generosidade de Brizola. A agência de notícias da ditadura divulgou o agraciamento dias depois, como se fosse mais do que uma comenda insignificante do Legislativo municipal.
A notícia revirou no PSOL um histórico vacilante em relação a governos marcados por violações democráticas, como na Venezuela. Dirigentes da sigla repudiaram a homenagem. O deputado Marcelo Freixo disse discordar de Brizola e afirmou que se opõe a todas as ditaduras.
O episódio pode ser uma boa oportunidade para que a oposição trace uma linha nítida e se afaste de vozes inconsequentes. Num país em que a defesa de autocratas se torna aos poucos política de governo, o peso do camarada Kim é esmagador.
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