Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Na guerra ideológica, Bolsonaro ganha até quando perde

Presidente estimula sua base mesmo quando não consegue entregar soluções concretas

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Dias depois da eleição, Jair Bolsonaro anunciou a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Parecia uma simples mudança de CEP, mas não era assim. Ainda no primeiro ano de mandato, os militares desmontaram a armadilha, já que o plano era visto como afronta pelos países árabes.

O presidente perdeu a queda de braço dentro do governo, mas não admitiu desistir e passou a empurrar a ideia com a barriga. Em dezembro, disse ao primeiro-ministro israelense que a troca aconteceria em 2020. Dois meses depois, deu uma entrevista a um pastor evangélico e disse que tudo seria feito até 2021.

Para Bolsonaro, as bravatas e a propaganda valem mais que resultados objetivos, na maior parte das vezes. O presidente se especializou em vender planos de difícil execução e soluções impossíveis para problemas fantasiosos, apenas para manter sua base política estimulada.

O governo sabe que uma transferência definitiva da embaixada para Jerusalém criaria complicações desnecessárias para o Brasil. Bolsonaro dá sinais de hesitação, mas continua balançando a cenourinha na frente de cavalos famintos pela mudança. Assim, ele reforça um discurso caro à comunidade evangélica, mesmo que o projeto não se concretize.

A mesma lógica está por trás de sua recente tentativa de emparedar os governadores no debate sobre o preço dos combustíveis. O presidente sabia que nenhum estado poderia zerar a cobrança de ICMS nesses casos, mas o próprio lançamento da ideia fracassada fez com que ele acumulasse pontos com seu eleitorado.

Incapaz de construir acordos, Bolsonaro deixou no papel sua pauta de costumes e viu o Congresso derrubar propostas como a flexibilização do acesso a armas de fogo. Ele não se importou. No círculo de seguidores fiéis, o mito ganha até quando perde.

Os acenos simbólicos são suficientes para reforçar as trincheiras ideológicas de Bolsonaro. Basta prometer acabar com o comunismo e combater a depravação nas escolas enquanto espera as curtidas nas redes.

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