Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bolsonaro aposta em jogo de espera mórbido na crise do coronavírus

Presidente faz ameaça vazia enquanto aguarda consequências econômicas da pandemia

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Há três semanas, Jair Bolsonaro acordou “com vontade de baixar um decreto” para atropelar governadores, forçar a reabertura do comércio e derrubar medidas de isolamento contra o coronavírus. Ele explicou, dias depois, que o documento estava “pronto para assinar”, mas disse que ainda estava “esperando o povo pedir mais”.

Para um presidente acostumado a jogar para a plateia, a espera foi um tanto frustrante. Desde então, Bolsonaro assistiu ao agravamento da epidemia, foi proibido pelo Supremo de interferir nas restrições impostas pelos estados e viu pesquisas que mostraram que mais de 70% dos brasileiros apoiam essas decisões.

O presidente Jair Bolsonaro no anúncio o novo ministro da Saúde, Nelson Teich - Pedro Ladeira - 16.abr.20/Folhapress

Ao sustentar a ameaça por tanto tempo, o presidente aposta num jogo de espera mórbido. Bolsonaro sabe que um plano de retorno imediato à normalidade é inexequível e não tem apoio dos cidadãos, mas ele espera que o jogo mude quando, inevitavelmente, as consequências econômicas da crise se tornarem cada vez mais dramáticas para a população.

A intimidação já nasceu vazia. Quando o presidente lançou a ideia de desmantelar o isolamento, governadores e prefeitos discutiram uma reação conjunta. Muitos combinaram que, se aquilo ocorresse, manteriam as medidas e ignorariam Bolsonaro. Na sequência, o STF ainda decidiu que os gestores locais têm autonomia para aplicar essas regras.

O presidente ainda fingiu preservar alguma autoridade nos últimos dias. Disse que enviaria um projeto de lei ao Congresso para flexibilizar o distanciamento, mesmo sabendo que os parlamentares não aprovariam esse texto. Depois, insistiu na reabertura do comércio e completou: “É um risco que eu corro, porque, se agravar, vem para o meu colo”.

Como o isolamento está de pé, já se sabe que o presidente não vai abraçar essa responsabilidade. Ele continua pintando outros políticos como inimigos, enquanto aguarda para debitar na conta deles o custo econômico da pandemia. Para Bolsonaro, esse conflito é muito mais útil do que qualquer ação prática.

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