Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Presidente tira máscara e tenta inaugurar o verdadeiro governo Bolsonaro

Ameaça a Moro, isolamento de Guedes e acordo com centrão revelam sua essência política

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Jair Bolsonaro nunca foi um defensor fervoroso do combate à corrupção. Jamais empunhou a bandeira do liberalismo econômico e tampouco conseguiu sustentar a retórica da nova política. Depois de fingir ser o que não é por mais de um ano, ele parece ansioso para inaugurar seu verdadeiro governo.

Nos últimos dias, o presidente se sentiu poderoso o suficiente para apunhalar Sergio Moro, esvaziar Paulo Guedes e rasgar seu discurso antissistema. Ao ameaçar substituir o chefe da Polícia Federal, escantear o ministro da Economia de um plano de investimentos públicos e negociar um arranjo com os partidos do centrão, Bolsonaro muda sua lógica de sobrevivência no poder.

O presidente sugere estar disposto a trocar o lustro dos superministros e o apoio do eleitorado lavajatista por uma atitude autossuficiente. Sobraria apenas um político de carreira, defensor da intervenção estatal na economia e afeito a manobras para blindar seus aliados.

Bolsonaro testou os limites do próprio poder ao nadar contra a corrente na crise do coronavírus e apostar na demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. Agora, ele contraria Moro, Guedes e uma fatia de sua base eleitoral para fazer suas vontades em outras áreas.

O alvo mais recente foi o ministro da Justiça, que já se tornou uma peça de decoração no governo. Foi atropelado pelo chefe uma dezena de vezes e precisou avisar que pediria demissão se Bolsonaro tirasse do comando da PF um aliado seu que andava incomodando o Palácio do Planalto. O barulho da notícia balançou o presidente.

Com mais desenvoltura, Bolsonaro vai dando de ombros para a aura liberal que Paulo Guedes emprestou para sua campanha e esquece ter dito, há menos de dois anos, que os chefes do centrão eram “a nata do que há de pior no Brasil”. Agora, eles poderão fazer parte de seu governo.

O presidente pode ter disfarçado mal, mas manteve o personagem por algum tempo. Agora, o Bolsonaro original de fábrica quer tomar posse.

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