Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian

Bolsonaro mira economia, mas não sabe como conter pobreza e desemprego

Visão mesquinha sobre pagamento do auxílio emergencial está entranhada no governo

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Quando era deputado, Jair Bolsonaro defendia o fim do Bolsa Família. Em 2011, ele foi à tribuna da Câmara para dizer que o benefício tornava "pobres coitados, ignorantes" em "eleitores de cabresto do PT".
"O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda", acrescentou o parlamentar.

Depois que assumiu o poder, ele tentou omitir os antigos discursos. Lançou o pagamento de uma 13ª parcela do programa e disse que aquela era uma conquista de pessoas que "ficaram esquecidas por muito tempo". A visão mesquinha do deputado polemista do baixo clero, no entanto, continua entranhada no governo.

O ministro da Economia mal consegue disfarçar. Numa conversa com empresários, Paulo Guedes disse que poderia estender o pagamento do auxílio emergencial do coronavírus por apenas um ou dois meses, além das três parcelas já previstas. Sem esse limite, "aí ninguém trabalha".

"Ninguém sai de casa e o isolamento vai ser de oito anos, porque a vida está boa, está tudo tranquilo", declarou, na terça-feira (19).

É natural que um ultraliberal convicto como Guedes seja contra a prorrogação de um benefício que custa bilhões aos cofres públicos. Já a percepção de que os mais pobres teriam vida fácil com R$ 600 por mês durante uma pandemia não faz parte de nenhuma doutrina econômica.

Paulo Guedes durante coletiva sobre os 500 dias de governo - Edu Andrade/Ascom-ME

As declarações do ministro mostram que o governo não tem ideia de como contornar a devastação de empregos e renda causada pela crise —que deve se estender além dos poucos meses extras que Guedes quer conceder. A busca por soluções para a retomada econômica, na verdade, tende a criar novas divergências entre o ministro e o presidente.

Para fustigar seus adversários políticos, Bolsonaro apostou tudo na economia desde o início da crise do coronavírus. Tentou transferir a governadores e prefeitos a culpa pela recessão, mas pesquisas recentes mostram que cada vez mais brasileiros veem sua marca nessa área. A vida boa do presidente não deve durar.

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