Ao encerrar seu discurso de renúncia, em setembro de 2005, Severino Cavalcanti disse que esperava ser julgado pelo povo. Ameaçado de cassação, o então presidente da Câmara negou as acusações de que recebia um “mensalinho” para autorizar o funcionamento de um restaurante na Casa e anunciou: “Voltarei”.
Severino tentou retornar ao cargo no ano seguinte, mas não conseguiu se eleger. A trajetória do pernambucano, que morreu nesta quarta (15), ainda descreve algumas das relações políticas que dominam o país.
Na disputa que o levou ao comando da Câmara, Severino ganhou o apelido de “rei do baixo clero”. Ele prometia aos deputados aumento de salários e mais dinheiro para que eles exercessem seus mandatos.
A candidatura ganhou corpo num lance casado entre a oposição ao governo Lula e os partidos que hoje compõem o centrão, num consórcio para derrotar o candidato do PT. Um dos entusiastas dessa jogada era o então deputado Jair Bolsonaro.
“Parabéns ao presidente Severino Cavalcanti, por quem tive o prazer e a honra de lutar incessantemente como soldado para que atingisse essa vitória”, disse Bolsonaro, 13 anos antes de emergir daquele baixo clero.
O pernambucano venceu os petistas, mas sentou-se à mesa com o governo pouco depois. Ele se reuniu com Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, e disse que Lula havia oferecido a ele uma indicação para “aquela diretoria que fura poço e acha petróleo” na Petrobras.
Os 217 dias de sua gestão foram marcados pelo fisiologismo desabrido e por declarações preconceituosas. Defendia a contratação de parentes nos gabinetes da Câmara e dizia que a união civil de pessoas do mesmo sexo era absurda.
Severino renunciou depois que um empresário afirmou que pagava ao presidente R$ 10 mil por mês pela prorrogação do contrato de um restaurante da Câmara. Na saída, o deputado disse ser vítima de perseguição por tentar acabar com os “privilégios de poucos”. Quinze anos depois, ainda há Severinos em Brasília.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.