Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian

Lógica do baixo clero ainda dita as regras da política nacional

Severino simbolizou preconceito e fisiologismo que se consagraram em Brasília

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ao encerrar seu discurso de renúncia, em setembro de 2005, Severino Cavalcanti disse que esperava ser julgado pelo povo. Ameaçado de cassação, o então presidente da Câmara negou as acusações de que recebia um “mensalinho” para autorizar o funcionamento de um restaurante na Casa e anunciou: “Voltarei”.

Severino tentou retornar ao cargo no ano seguinte, mas não conseguiu se eleger. A trajetória do pernambucano, que morreu nesta quarta (15), ainda descreve algumas das relações políticas que dominam o país.

Na disputa que o levou ao comando da Câmara, Severino ganhou o apelido de “rei do baixo clero”. Ele prometia aos deputados aumento de salários e mais dinheiro para que eles exercessem seus mandatos.

A candidatura ganhou corpo num lance casado entre a oposição ao governo Lula e os partidos que hoje compõem o centrão, num consórcio para derrotar o candidato do PT. Um dos entusiastas dessa jogada era o então deputado Jair Bolsonaro.

“Parabéns ao presidente Severino Cavalcanti, por quem tive o prazer e a honra de lutar incessantemente como soldado para que atingisse essa vitória”, disse Bolsonaro, 13 anos antes de emergir daquele baixo clero.

Jair Bolsonaro e deputados comemoram eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara, em 2005
Jair Bolsonaro e deputados comemoram eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara, em 2005 - Sérgio Lima - 15.fev.2005/Folhapress

O pernambucano venceu os petistas, mas sentou-se à mesa com o governo pouco depois. Ele se reuniu com Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, e disse que Lula havia oferecido a ele uma indicação para “aquela diretoria que fura poço e acha petróleo” na Petrobras.

Os 217 dias de sua gestão foram marcados pelo fisiologismo desabrido e por declarações preconceituosas. Defendia a contratação de parentes nos gabinetes da Câmara e dizia que a união civil de pessoas do mesmo sexo era absurda.

Severino renunciou depois que um empresário afirmou que pagava ao presidente R$ 10 mil por mês pela prorrogação do contrato de um restaurante da Câmara. Na saída, o deputado disse ser vítima de perseguição por tentar acabar com os “privilégios de poucos”. Quinze anos depois, ainda há Severinos em Brasília.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.