Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Faltou coragem a Bolsonaro para assumir o fracasso de suas escolhas

Na ONU, presidente posou como injustiçado, escondeu barbárie e atribuiu desastres ao acaso

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Jair Bolsonaro nunca escondeu suas convicções sobre temas como direitos humanos, meio ambiente e saúde pública. O deputado polemista construiu fama com declarações selvagens e tentou transformar a barbárie em política de governo. Agora, ele quer esconder o fracasso dessas escolhas.

Faltou coragem ao presidente para defender suas posições primitivas na Assembleia Geral da ONU, nesta terça (22). No discurso, Bolsonaro posou como injustiçado e pintou as catástrofes que produziu como frutos de mero acaso.

O presidente manteve a linha negacionista diante da pandemia do coronavírus, mas não quis contar a seus pares que fez campanha contra a saúde dos cidadãos. Ele abriu o pronunciamento dizendo “lamentar cada morte ocorrida”. Se fosse mais transparente, poderia ter contado quantas vezes deu de ombros para as vítimas. “Não sou coveiro, tá?”, disse em abril.

Bolsonaro voltou a culpar a imprensa por disseminar “pânico entre a população”. Faltou ali a audácia de um líder que previu 800 mortes na pandemia e abriu mão da responsabilidade por uma crise que já matou mais de 130 mil pessoas.

Presidente Jair Bolsonaro discursa durante debate da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas - Reprodução/ONU no Youtube

Alvos conhecidos do desdém governamental, os povos indígenas inicialmente surgiram no discurso como propaganda. Num tom de autoelogio, o presidente disse ter ajudado 200 mil famílias na pandemia. Preferiu não revelar que vetou o projeto que o obrigava a fornecer água potável, produtos de higiene e leitos hospitalares a essa população.

Os indígenas também foram acusados por incêndios florestais, como consequência da queima do roçado. Bolsonaro omitiu o fato de que a Polícia Federal atribui parte das queimadas à ação criminosa de fazendeiros. Ele também não reproduziu a desfaçatez com que o governo nega o próprio fogo e desmonta órgãos de controle.

O governo fingiu falar grosso com o crime ambiental e afirmou manter uma “política de tolerância zero” nessa área. Na vida real, Bolsonaro é bem mais manso com os infratores. No ano passado, ele prometeu descumprir a norma que determina a destruição de máquinas usadas no desmatamento.

O presidente também parecia outra pessoa ao enaltecer por três vezes a ação do Brasil na defesa dos direitos humanos. Seria mais honesto aparecer como o político que defende a execução sumária de suspeitos e que, em 2006 e 2016, escreveu que os direitos humanos eram “o esterco da vagabundagem”.​

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