Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Ministério desmonta parte do circo político de Bolsonaro contra vacina

Choques dentro do próprio governo desmascaram exploração do caso pelo presidente

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Nem os auxiliares de Jair Bolsonaro conseguem sustentar por muito tempo o circo político armado diariamente pelo chefe. Em menos de 24 horas, o Ministério da Saúde tentou cortar mais um fio da campanha do presidente contra a vacina chinesa para a Covid-19, produzida em São Paulo.

A pasta anunciou nesta terça (20) que pagaria R$ 2,6 bilhões para incluir 46 milhões de doses da Coronavac em seu Programa Nacional de Imunizações. Bolsonaro precisou explicar por que gastaria uma fortuna com um produto que, na véspera, ele mesmo tentou desmoralizar.

Na segunda (19), o presidente abriu um evento disposto a atacar a vacina chinesa para acertar o governador João Doria (PSDB). Em poucos minutos, ele criticou o preço do imunizante, insinuou que sua eficácia não está comprovada e citou um levantamento que indica que 46% dos brasileiros recusam sua aplicação.

Alguém poderia imaginar que o presidente se converteu às escrituras científicas, que passou a acreditar nas pesquisas de opinião ou que finalmente decidiu dar bola para a saúde. Mas as autoridades do próprio governo trataram de desmascarar o que já estava evidente.

Jair Bolsonaro e o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) em cerimônia no Palácio do Planalto - Evaristo Sá/AFP - 14.out.2020

A negociação com os paulistas para a distribuição da Coronavac mostra a dimensão do absurdo fabricado por Bolsonaro. Ao mirar Doria, o presidente disse que o tucano produz “terror” ao anunciar que o imunizante deve ser compulsório no estado. O ministro da Saúde descartou a obrigação, mas também não ouviu a bobagem do chefe sobre a vacina.

A exploração do caso ficou ainda mais clara na manhã de quarta (21), quando Bolsonaro foi às redes sociais para desautorizar o próprio Ministério. Embora Eduardo Pazuello tenha dito que aquela seria a "vacina do Brasil", o presidente afirmou a um seguidor que a Coronavac "não será comprada".

Bolsonaro não ficou satisfeito em atrapalhar os esforços para frear a contaminação pelo coronavírus e em desdenhar de seus mortos. Ele ainda procura novas oportunidades para extrair benefícios políticos de cada etapa da pandemia.

O presidente só conseguiu atenção agora porque, do lado oposto, a busca pelos holofotes empurrou Doria nessa direção. Ao antecipar o debate sobre a obrigatoriedade da vacina, de maneira superficial, o governador caiu na armadilha do rival.​

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