Os números da popularidade de Jair Bolsonaro sugerem que as suspeitas na compra de vacinas podem resultar num abalo determinante na imagem do presidente. A nova pesquisa Datafolha mostra que o desgaste do governo chegou a segmentos da população que até aqui não o associavam à corrupção.
Bolsonaro pode ter sofrido um golpe semelhante ao que ocorreu com a demissão de Sergio Moro. Depois da saída do ex-juiz, 40% dos brasileiros diziam que o presidente era desonesto. O recorte da população por grau de instrução era revelador: 34% dos brasileiros com ensino fundamental completo tinham essa visão, enquanto o índice chegava a 49% no segmento com ensino superior.
Na ocasião, Bolsonaro começou a perder o apoio de eleitores mais ricos e escolarizados, reduto em que Moro era mais popular. A gestão desastrosa da pandemia agravou esse afastamento, e o presidente se agarrou a eleitores de baixa renda amparados pelo auxílio emergencial.
A redução do valor do benefício baixou o escudo que o governo tinha nessa fatia. Com isso, a CPI da Covid e as suspeitas sobre a negociação de vacinas provocaram danos mais significativos ao presidente.
Nenhum atributo negativo ganhou tanta adesão no último ano quanto a visão de que Bolsonaro é desonesto. Essa percepção subiu para 52%, mas a pior notícia para o governo é que ela se espalhou pelos segmentos da população: está presente no grupo de escolaridade mais baixa (53%) e na faixa mais alta (54%).
Nesse quesito, Bolsonaro está em situação mais delicada do que Dilma Rousseff no início de seu segundo mandato. Em fevereiro de 2015, pouco antes dos primeiros protestos contra o governo, 47% dos brasileiros achavam a presidente desonesta.
Depois da demissão de Moro e do agravamento da pandemia, Bolsonaro não conseguiu recuperar sua taxa de apoio entre os mais ricos e escolarizados. Agora, a imagem de desonestidade entre os mais pobres pode interditar o caminho até a reeleição ou mesmo abreviar seu mandato.
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