Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Rejeição em disparada reduz bônus de Bolsonaro para a reeleição

Apesar de concentrar apoio, presidente tem caminho mais estreito em 2022

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Os 25% de intenção de voto registrados na nova pesquisa do Datafolha ainda fazem de Jair Bolsonaro um candidato competitivo para 2022, mas seu caminho até a reeleição fica cada vez mais estreito.

Apesar da fidelidade de uma fatia do eleitorado, a disparada do índice de rejeição ao presidente limita sua capacidade de conquistar ou recuperar votos até o ano que vem.

No mais recente levantamento do instituto, 59% dos entrevistados disseram que não votariam em Bolsonaro "de jeito nenhum" na próxima eleição. Seus adversários Lula (PT) e João Doria (PSDB) aparecem bem atrás nesse quesito, com 37%.

O índice de brasileiros que se recusam a votar em Bolsonaro é bem maior do que o registrado às vésperas do primeiro turno de 2018, quando 44% rejeitavam o então candidato. Os números apontam que aquela reprovação original se somou a uma avaliação negativa construída ao longo do mandato.

A taxa de Bolsonaro tem poucos precedentes entre governantes que disputaram a reeleição em anos recentes. No início de 2006, 33% dos brasileiros diziam não votar em Lula de jeito nenhum. Ainda em 2013, Dilma Rousseff aparecia com essa rejeição na faixa dos 30%.

O único dado semelhante aparece no caso de Michel Temer. Quando dirigentes do MDB fingiam interesse em lançar o então presidente à reeleição, em 2018, chegava a 64% o percentual de brasileiros que se recusavam a votar nele. A diferença é que Temer tinha apenas 2% das intenções de voto.

Bolsonaro parte de um patamar maior de adesão a sua candidatura e tem nas mãos a máquina de um governo que pode ser usado para a reduzir seus índices negativos, abrindo espaço para a obtenção de mais votos. A rejeição em disparada, no entanto, faz com que o bônus da reeleição seja limitado.

Qualquer governante tem vantagem na disputa por um segundo mandato, mas o trabalho se torna mais custoso quando suas taxas negativas parecem cristalizadas. O índice de 59% é um obstáculo significativo para Bolsonaro, especialmente porque as crises sucessivas enfrentadas pelo governo ajudaram a consolidar a oposição de uma fatia considerável de eleitores.

O presidente enfrenta uma rejeição considerável nas duas regiões mais populosas do país, que abrigam sete de cada dez brasileiros. No Nordeste, 70% dizem que não votam em Bolsonaro de jeito nenhum. No Sudeste, a taxa está em 60%.

O desempenho negativo do presidente também se espalhou por diferentes estratos sociais. Ele aparece com 59% de rejeição no grupo de entrevistados que têm apenas o ensino fundamental completo e com 61% entre brasileiros com ensino superior.

O peso da crise econômica e a demora na recuperação do mercado de trabalho ampliam as chances de consolidação dessa avaliação. No segmento mais pobre do país, 63% dizem que não dariam um segundo mandato ao presidente. Entre desempregados, a taxa está em 74%.

Mesmo entre os evangélicos, a situação de Bolsonaro não chega a ser confortável: 45% do grupo se recusa a votar nele, um índice semelhante ao registrado no caso de Lula (47%).

O estímulo a um embate direto com o PT deve ser a principal arma de Bolsonaro para tentar superar esse problema. Os governistas querem convencer alguns antibolsonaristas de que é melhor reeleger o presidente para evitar a volta de Lula.

Mesmo com a exploração do antipetismo, essa tarefa pode ser difícil. Entre os eleitores que dizem rejeitar Bolsonaro, só 4% admitem votar no presidente num embate direto contra Lula no segundo turno. Nesse grupo, 86% preferem o petista e 11% votariam nulo ou em branco.

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