Jair Bolsonaro facilitou o trabalho da CPI da Covid. No momento em que os senadores levantam suspeitas de uma operação que empurrou cloroquina para milhares de pacientes, falsificou a eficácia de medicamentos e ocultou mortes pela doença, o presidente mostrou que aquela era uma política oficial do governo.
A defesa do "tratamento precoce" foi levada sem pudor à sede da ONU. Em seu discurso na Assembleia-Geral deste ano, Bolsonaro disse que sempre apoiou "a autonomia do médico" para receitar remédios comprovadamente ineficazes.
O presidente permanece ao lado dos protagonistas dos escândalos da cloroquina. Na prática, ele demonstra que existe, até hoje, apoio político aos responsáveis por experimentos que utilizaram pacientes como cobaias e podem ter adulterado prontuários para forjar resultados positivos do chamado "kit Covid".
Nas últimas semanas, a CPI apresentou indícios de que a operadora Prevent Senior adotou esse procedimento. Um dossiê noticiado pela GloboNews apontou que médicos sofriam pressão para prescrever medicamentos e faziam experimentos sem o consentimento dos pacientes. O documento sugere ainda que a empresa omitiu mortes de pessoas tratadas com cloroquina.
Em depoimento na CPI, o diretor-executivo da operadora confirmou a prescrição dos remédios, mas disse que os médicos avaliavam a situação de cada segurado antes de fazer a receita. Ele admitiu que a Prevent Senior mudava o diagnóstico de pacientes com Covid depois de 14 ou 21 dias de internação.
Senadores afirmam que essa manobra reduziu artificialmente as estatísticas de mortes pela doença nos hospitais da operadora. Um desses casos teria sido o da mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang, defensor da cloroquina.
O diretor da Prevent disse à CPI que muitos pacientes exigiam medicamentos ineficazes depois de ouvir declarações de Bolsonaro. O presidente, como se viu, não faz questão de esconder o papel de coautor.
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