Ciro Gomes deu um passo determinante em sua estratégia para 2022. O pedetista percebeu que ganha mais atenção quando ataca Lula do que nas críticas que faz a Jair Bolsonaro. Ainda que tente encontrar um espaço no eleitorado entre os dois, ele já decidiu aumentar o calibre dos tiros disparados contra o petista.
Depois de protagonizar uma sequência de bate-bocas com Lula e Dilma Rousseff, Ciro disse que pretendia "alertar para o risco" que seria a volta do petista ao poder. Num vídeo divulgado nesta quinta (14), o ex-governador do Ceará afirmou que vai "combater os erros do PT e os erros de Bolsonaro", mas insinuou que Lula está a postos para reeditar escândalos de corrupção.
Os movimentos de Ciro são 50% táticos e 50% viscerais. O tom hostil a Lula reflete as mágoas acumuladas em décadas de relações turbulentas na esquerda, mas é também uma aposta do ex-governador para absorver um sentimento antipetista e desbancar Bolsonaro.
A dose da investida mais recente pode criar algumas dificuldades nesse caminho. Entre eleitores de esquerda, Lula não é uma divindade inatacável, mas o tom do pedetista certamente aumenta sua rejeição numa fatia considerável desse grupo, simpática ao ex-presidente.
Com isso, o potencial de crescimento de Ciro deve se concentrar cada vez mais num nicho de eleitores de direita e centro-direita, que pode ficar congestionado por nomes como João Doria ou Eduardo Leite, Sergio Moro e o próprio Bolsonaro.
Outro problema é que um embate com Bolsonaro e Lula pode não ser suficiente. Numa disputa peculiar, com líderes com altas taxas de conhecimento e rejeição, um terceiro candidato precisaria mostrar capacidade de derrotar ao menos um dos dois —algo que Ciro ainda não tem.
O pedetista só deve conquistar votos na esquerda se mostrar que pode ultrapassar Bolsonaro no primeiro turno e só deve ganhar eleitores na direita se convencê-los de que pode bater Lula no segundo. O espaço de Ciro ainda é estreito.
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