Em novembro de 2017, Sergio Moro dizia que migrar para o campo eleitoral seria um movimento inapropriado, tanto naquela época como no futuro. O próprio juiz admitia o problema. "Isso poderia colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento", disse, num seminário da revista Veja.
Na ocasião, Moro já era um personagem daquela arena. Ele defendia a decisão de divulgar uma gravação que ampliou a turbulência do impeachment de Dilma Rousseff e chefiava um processo contra o candidato que liderava as pesquisas para a eleição seguinte. O juiz, no entanto, tentava traçar uma linha para afastar a ideia de que buscava um benefício político direto com sua atuação.
Esse limite foi ultrapassado um ano depois, quando Moro aceitou entrar no governo de Jair Bolsonaro, e será totalmente apagado na próxima semana. O ex-juiz anunciou oficialmente que vai se filiar ao Podemos e assumiu de vez o papel de pré-candidato em 2022.
O registro eleitoral de Moro chegou com anos de atraso. Antes da última corrida ao Planalto, o juiz era assediado por partidos e aparecia nas pesquisas como um nome competitivo. Ele não assinou nenhuma ficha de filiação, mas mexeu no tabuleiro: condenou o ex-presidente Lula e, às vésperas da eleição, divulgou o depoimento de um delator que acusava o petista de corrupção.
Os planos eleitorais de Moro ficaram de lado porque ele reconhecia que suas decisões na Lava Jato seriam questionadas caso ele vestisse o figurino de candidato. Ele mesmo, porém, desencadeou esse processo ao longo da operação, como indicam as mensagens que ele trocava com procuradores da força-tarefa, e no momento em que resolveu servir a Bolsonaro em Brasília.
Moro já pode ser chamado de ex-juiz há quase três anos, mas seu personagem político ainda veste toga. O pré-candidato só tem algum capital para qualquer disputa nas urnas porque assinou todas aquelas sentenças em Curitiba. Esse conflito continuará presente em 2022.
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