Nos primeiros lances do processo de escolha de um candidato a presidente para a eleição de 2020, o Partido Democrata se dividiu. Uma ala queria Bernie Sanders, que conseguia energizar sua base com uma plataforma de justiça social e valores progressistas. O campo moderado tentava vender Joe Biden como uma escolha segura e previsível –um candidato entediante para enfrentar a insensatez de Donald Trump.
Um cálculo simples levou à opção pelo atual presidente americano. O partido precisava ampliar seu eleitorado para não repetir a derrota da disputa anterior. Biden foi um aceno a americanos que não se identificavam com itens da plataforma democrata, mas aceitavam votar num nome mais suave com o objetivo de tirar Trump do poder.
A jogada funcionou. Os democratas recuperaram parte do eleitorado trumpista, e Biden recebeu apoio até de velhos republicanos, que fundaram um grupo batizado de Lincoln Project. Outros tantos, como o senador Mitt Romney e o ex-presidente George W. Bush, rejeitaram Trump publicamente ou não apareceram para votar.
Geraldo Alckmin tem o potencial de provocar um efeito Biden na candidatura de Lula em 2022. O ex-tucano seria um componente principalmente simbólico na chapa do petista, mas pode ser suficiente para dar conforto a alguns críticos e opositores dispostos a votar no ex-presidente (ou faltar à eleição) para derrotar Bolsonaro.
Essa lógica se baseia no caráter antibolsonarista da próxima eleição –o que sugere que ela deve se aplicar com mais intensidade num eventual segundo turno entre Lula e o presidente. A ruína do atual governo e um agente neutralizante como Alckmin podem nivelar o caminho para políticos e eleitores de direita ou centro-direita que votaram em Bolsonaro em 2018.
Alckmin seria apenas um personagem desse ato. Na última disputa, os tucanos Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati ficaram neutros no segundo turno. O presidente do DEM, ACM Neto, declarou apoio a Bolsonaro. Nenhum deles parece interessado em repetir a dose em 2022.
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