Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Doutrina de Olavo fracassou no poder, mas ainda será útil para Bolsonaro na eleição

Cartilha do polemista vai formatar comportamento do presidente na disputa pela reeleição

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Olavo de Carvalho nunca escondeu sua frustração com o desempenho de Jair Bolsonaro no poder. O escritor atacava a hesitação do presidente em tomar medidas autoritárias e reclamava da timidez de uma guerra contra o que chamava de comunismo. Em dezembro, o polemista escreveu que só votaria de novo no capitão "por falta de alternativas".

A doutrina de Olavo deu instrumentos a Bolsonaro em 2018 para aglutinar grupos que se moviam por sentimentos diversos. A plataforma do autointitulado filósofo uniu setores que se viam ameaçados por transformações sociais, enxergavam uma conspiração mundial liderada pela esquerda e identificavam um país refém de elites políticas.

Bolsonaro se cercou de ex-alunos de Olavo e instrumentalizou essa visão. Investiu numa agenda ultraconservadora, atacou a inclusão de minorias, aderiu ao conceito de guerra cultural contra adversários políticos e abraçou o discurso antissistema. A cartilha rendeu frutos na eleição e foi transportada para o governo.

Essa agenda começou a fracassar no momento em que Bolsonaro entrou no Planalto. O governo tentou implantar um projeto baseado no preconceito, na destruição de opositores e na concentração de poderes. Fabricou estragos, erodiu políticas públicas e esvaziou instituições, mas não conseguiu tornar o bolsonarismo uma força dominante.

Os elementos do olavismo foram ferramentas eficazes de agitação política e ajudaram a consolidar uma base eleitoral modesta. A busca por essa agitação, no entanto, produziu ameaças à sobrevivência de Bolsonaro e empurrou o presidente para uma aliança com o mesmo sistema político que ele prometia desbancar.

Bolsonaro usou a estrutura do centrão para permanecer no cargo e decidiu se agarrar a ela também na corrida pela reeleição. Ainda assim, o presidente não deixará de lado o figurino antissistema, os velhos ressentimentos da direita e os fantasmas do comunismo. O olavismo ainda será útil para o presidente na próxima campanha.

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