Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Rússia

Viagem à Rússia obriga Bolsonaro a retornar ao baixo clero

Presidente exagera na propaganda e quase desaparece na agenda concreta

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Após encontrar Vladimir Putin, o presidente Jair Bolsonaro descreveu Brasil e Rússia como "duas grandes potências". O capitão tentou transmitir a imagem de que aquela era uma conversa entre iguais, mas não convenceu muita gente. Na passagem da comitiva brasileira por Moscou, quem apareceu foi o político de baixo clero dos velhos tempos.

O Bolsonaro que visitou Putin exibiu sua própria falta de expressão. Ninguém se incomodou muito quando o presidente disse que os brasileiros eram "solidários à Rússia" –o que poderia indicar que o país apoiava o Kremlin nas tensões com a Ucrânia. Na mesa dos adultos da diplomacia, ele praticamente desapareceu.

O presidente preferiu investir na retórica e na propaganda, suas ferramentas políticas favoritas desde os tempos de deputado. Tentou pegar carona na piada que o associava ao recuo das tropas russas na fronteira e, para conseguir uma foto ao lado de Putin, se curvou silenciosamente às regras que costuma contestar com valentia no Brasil, como o confinamento e o uso de máscara.

Como compensação, Bolsonaro buscou dar a seus apoiadores algumas migalhas ideológicas. Citou o apoio de Putin num fantasioso embate internacional sobre a Amazônia e disse compartilhar com o russo valores "como a crença em Deus e a defesa da família". Deu pouco destaque, é claro, à visita que fez ao túmulo de soldados soviéticos.

Tal qual um político com poder limitado, Bolsonaro ficou sem forças até para cometer exageros sobre os resultados concretos da viagem. Coube a ele destacar as negociações em torno do comércio de fertilizantes entre os dois países –um assunto estratégico para a agricultura brasileira, mas que poderia ter sido discutido por um punhado de ministros, numa visita mais modesta.

Não fosse a pompa oferecida a chefes de Estado, o presidente poderia ter sido confundido com um de seus auxiliares. A viagem serviu a alguns dos propósitos de Bolsonaro, mas também o obrigou a assumir sua verdadeira estatura política.

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