Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian

Apegado ao cargo, Bolsonaro insiste no figurino de governante involuntário

Presidente disfarça interesses para repetir a ideia de que o poder é uma missão divina

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A rotina de eventos antecipados de campanha, passeios de moto e comícios golpistas tem cansado Jair Bolsonaro. Num encontro com líderes evangélicos, o presidente disse que não vê a hora de deixar o cargo para "ir para a praia, tomar um caldo de cana na rua, voltar a pescar". Embora passe boa parte do tempo pensando na reeleição, ele insiste no figurino do governante involuntário.

Bolsonaro não explora essa imagem à toa. Atualmente, a maioria da população concorda com ele e gostaria de vê-lo longe do Palácio do Planalto a partir do ano que vem. Mas o presidente trabalha para reconquistar a coalizão de eleitores que lhe deu votos suficientes para garantir sua vitória em 2018.

O objetivo principal de Bolsonaro é despertar nesse grupo o mesmo antipetismo que o impulsionou naquela eleição. Com frequência, ele fala das agruras de ser presidente e diz que não faz questão de ficar no cargo, mas sempre apresenta a vitória da oposição como uma ameaça. "Quem estaria no meu lugar se a facada fosse fatal?", perguntou a pastores e aliados, na terça-feira (8).

Jair Bolsonaro ao lado da primeira dama Michelle Bolsonaro e da ministra Damares Alves em encontro com lideranças evangélicas no Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente também aproveita o discurso para vender a ilusão de que não tem apego ao poder, apesar das múltiplas regalias que seu grupo político alcançou nos últimos anos. Para completar o quadro, ele apresenta a função como parte de um sacrifício, com tonalidades religiosas. "Quem me colocou aqui foi Deus e somente ele me tira daqui", repete.

O falso desprendimento, o esforço para impedir uma vitória da esquerda e a impressão de que há uma missão divina ajudam Bolsonaro a manipular as expectativas de uma parte do eleitorado. Se está em jogo algo maior do que o próprio presidente, os fracassos do governo deveriam se tornar elementos secundários na hora do voto.

Bolsonaro assume o personagem do presidente desgostoso para sugerir que ele não tem interesses particulares no cargo e que há um projeto que justifica sua permanência no poder. Por trás da fantasia, o que se vê é exatamente o contrário.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.