Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Rússia

Bolsonaro aposta em pragmatismo e ilusão de 'neutralidade' na guerra

Itamaraty condena russos na ONU enquanto presidente conta com boa vontade particular de Putin

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Jair Bolsonaro fez uma incomum exibição de pragmatismo ao justificar a hesitação do governo brasileiro diante da invasão da Ucrânia. O presidente convocou uma entrevista no meio de sua folga de Carnaval para dizer que o país evitava condenar a guerra por temer retaliações russas no comércio internacional. "Para nós, a questão do fertilizante é sagrada", declarou.

Descontado o excesso de franqueza, a explicação poderia passar a imagem de que Bolsonaro se rendeu a uma diplomacia de resultados. O Brasil depende de fertilizantes importados, e a Rússia é a origem de quase 25% desse material. O presidente, porém, derrapou na ilusão de "neutralidade" com que tentava embasar sua posição.

Bolsonaro poderia proteger os interesses econômicos do Brasil sem endossar um dos lados e ofender o outro. Na entrevista de domingo (27), o presidente disse que não tinha nada a conversar com o colega Volodimir Zelenski e, de forma gratuita, fez pouco caso da carreira pretérita do líder ucraniano. "O povo confiou num comediante o destino de uma nação", ironizou.

Sem nenhuma cautela, Bolsonaro também encampou parte dos argumentos do Kremlin a favor da invasão. Afirmou que "grande parte da população da Ucrânia fala russo" e alegou que Vladimir Putin só estava "se empenhando" em regiões separatistas do Sul do país. Naquele dia, tropas da Rússia já se aproximavam da capital ucraniana.

A devoção aos fertilizantes produziu uma generosidade que contrasta com as birras do presidente com outros países. O bolsonarismo manteve uma política de insultos à China mesmo dependendo de seus insumos para fabricar vacinas. A parceria militar brasileira com a França também nunca impediu o governo de atacar Emmanuel Macron.

Bolsonaro quer dissociar suas atitudes do comportamento da chancelaria brasileira. Enquanto o Itamaraty condena os russos na ONU, o presidente parece contar com uma boa vontade particular de Putin.

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