Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian

Bolsonaro sabe que medo do comunismo não enche barriga

Presidente depende de plataforma dupla, com socorro econômico e discurso político

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quem ouviu o último discurso de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto não teve nem sinal de que o governo havia acabado de lançar um torpedo de R$ 150 bilhões para ajudar sua reeleição. Em 30 minutos, o presidente atacou governadores, repetiu suspeitas sobre as urnas eletrônicas e disse estar diante de uma disputa do "bem contra o mal".

Não partiu de Bolsonaro nenhuma palavra sobre um pacote considerado crucial pelos políticos que tocam a campanha do presidente. O governo liberou até R$ 1.000 do FGTS para 40 milhões de pessoas e antecipou o 13º de 30 milhões de aposentados e pensionistas. Além disso, ampliou a margem de empréstimos consignados, que miram até as famílias de baixa renda do Auxílio Brasil.

Bolsonaro deveria ser a pessoa mais interessada em bater bumbo para medidas que podem amortecer o mau humor da população com as incertezas da economia, mas preferiu manter os holofotes sobre velhas batalhas e as mesmas questões políticas que explorou em 2018. O movimento mostra que sua campanha depende de uma plataforma dupla para se manter de pé.

Os ministros Paulo Guedes (Economia) e Ciro Nogueira (Casa Civil) com o presidente Jair Bolsonaro em lançamento de medidas econômicas Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

Mesmo que o dinheiro liberado provoque algum alívio, nenhuma ação de curto prazo será suficiente para produzir um bem-estar generalizado na população. Bolsonaro já deve ter percebido, a esta altura, que não tem munição suficiente para transformar a eleição num julgamento sobre o estado da economia.

O presidente mantém vivo seu programa moral e ideológico porque esse é o único modo de evitar que a campanha se transporte integralmente para uma arena em que ele come poeira. Pesquisas recentes mostraram que, entre eleitores que apontam a economia como razão principal para o voto na próxima disputa, Lula lidera com folga.

As medidas econômicas do governo são incapazes de zerar esse jogo, mas podem ajudar Bolsonaro a transitar num território menos avesso a seu discurso político. O presidente sabe que o medo do comunismo não enche a barriga de ninguém.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.