O governo mostrou que tem um cobertor curto para lidar com os apertos eleitorais de Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, o presidente e seus auxiliares lançaram cobranças sobre a cúpula da Petrobras para adiar um novo aumento da gasolina e do diesel. O plano era segurar esse reajuste e esperar a aprovação no Congresso de mudanças nos impostos estaduais sobre os combustíveis.
A pressão sobre a estatal não é nenhuma novidade, mas as movimentações sugerem que Bolsonaro opera no limite dos prejuízos políticos que pode suportar nesse tema.
O governo trata a limitação da cobrança de ICMS e outras medidas para os combustíveis como torpedos sobre os preços, capazes de reduzir o litro da gasolina em até R$ 1,65. Bolsonaro pareceu ainda mais confiante durante uma entrevista: fez uma conta de padeiro e disse que o valor cobrado poderia cair até R$ 2.
O presidente não quer que as boas notícias sejam diluídas caso a Petrobras anuncie um reajuste antes que o corte nos preços comece a valer. O aumento projetado pela empresa teria a dimensão de poucas dezenas de centavos, mas o anúncio seria suficiente para manchar o que o governo espera vender como uma vitória.
Bolsonaro quer evitar a repetição de um revés que sofreu em março. Na ocasião, ele pediu à Petrobras que adiasse um reajuste e aguardasse a aprovação de outro projeto que alterava a cobrança de ICMS. A estatal não atendeu ao pedido e anunciou um aumento de mais de 18% na gasolina e de quase 25% no diesel –o que anulou a redução de impostos.
O presidente ficou furioso e acusou a Petrobras de cometer um "crime contra a população". Semanas depois, Joaquim Silva e Luna foi demitido do comando da empresa.
Um eventual aumento agora seria menos pesado, mas ainda provocaria algum dano, já que o próprio Bolsonaro andou fazendo propaganda do corte de preços. A matemática política do governo nesse caso é um sinal de que o presidente não pode se dar ao luxo de desperdiçar nenhum centavo até a eleição.
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