Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu ameaça autoritária

Bolsonaro precisa que a ameaça do golpismo continue circulando

Presidente usa risco como arma política, mesmo quando finge amenizar as próprias bravatas

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Parecia até que o presidente havia sido tomado por mais um pressentimento. Horas antes de a Polícia Federal bater na porta de oito empresários que discutiam casualmente um golpe de Estado, Jair Bolsonaro dizia para 43 milhões de brasileiros que defender o fechamento do STF não era "nada de mais". "Para mim, isso daí faz parte da democracia", afirmou, no Jornal Nacional.

A afinidade de Bolsonaro com a ideia de uma ruptura democrática não é nenhuma novidade. Mas é interessante observar como o presidente emite um tipo de salvo-conduto e estimula o golpismo entre seus seguidores mesmo quando ele próprio age estrategicamente para reduzir o volume dessas bravatas.

Bolsonaro insiste na circulação da ameaça porque explora o fantasma do golpe como arma política. Em primeiro lugar, a retórica da ruptura ajuda o presidente a se vender como líder de uma guerra contra "o sistema" e manter o engajamento de seus apoiadores mesmo nos momentos em que ele parece frágil.

O capitão também usa esse risco numa espécie de extorsão. Em nome de uma suposta pacificação, aliados espalham pelos tribunais a versão de que o presidente vai abandonar os ataques à democracia e a postura conflituosa caso determinadas exigências sejam cumpridas. A negociação nunca se concretiza porque o único beneficiário da história é o próprio Bolsonaro.

No fundo, o presidente ainda alimenta a hipótese de um golpe porque parece acreditar verdadeiramente nesse caminho. Mantendo a possibilidade no ar, ele tenta calcular a adesão a um processo de ruptura liderado por ele, incluindo setores sensíveis como as Forças Armadas e o empresariado.

O presidente só consegue sustentar esse risco graças à boa vontade de instituições como o Congresso e a Procuradoria-Geral da República. Augusto Aras, aliás, não escondeu de aliados a contrariedade com a ação da PF que mirou empresários golpistas. Se dependesse dele, haveria mais gente falando de golpe por aí.

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