Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

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Quem faz cirurgia bariátrica também deve se exercitar

Acompanhamento de paciente por equipe multidisciplinar é peça-chave no sucesso de longo prazo da intervenção cirúrgica

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Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE), apontam para o crescimento da obesidade no Brasil. Atualmente, cerca de 1 em cada 4 adultos estão obesos. O que fazer?

Como sabe o leitor, a adoção de um estilo de vida saudável é o pilar da prevenção da obesidade. Porém, pessoas com obesidade grave costumam encontrar dificuldades para aderir a comportamentos saudáveis.

Para casos mais complexos em que o peso excessivo vem acompanhado de doenças que aumentam os riscos de mortalidade –tais como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca–, um tratamento extremo porém eficaz é a cirurgia bariátrica.

O Brasil ocupa a segunda colocação no ranking dos países que mais realizam esse procedimento (cerca de 68 mil ao ano), atrás somente dos EUA (aproximadamente 250 mil ao ano), onde a obesidade atinge 4 em cada 10 adultos.

Por restringir o volume do estômago e diminuir a absorção dos nutrientes, a cirurgia bariátrica resulta numa substancial perda de peso corporal. Com isso, diversos benefícios clínicos são observados.

Mulher observa o movimento na Times Square, em Nova York
Mulher observa o movimento na Times Square, em Nova York (EUA) - Lucas Jackson - 23.set.20/Reuters

Pouco tempo após a cirurgia, pacientes com diabetes podem ser ver livres da doença. Nem mesmo o tratamento intenso com medicamentos faz frente à eficácia da operação no controle dos níveis circulantes de açúcar. Por isso, no contexto do tratamento da diabetes, o procedimento tem sido chamado de “cirurgia metabólica”.

Embora seja uma indiscutível aliada em casos graves de obesidade, a cirurgia bariátrica não dispensa a adoção de um estilo de vida saudável, como revelam estudos conduzidos pelo nosso laboratório, na Universidade de São Paulo.

Em apenas 9 meses, observamos que os benefícios promovidos pela cirurgia tendem a se dissipar. E isso tem a ver com a incapacidade de o paciente adotar um estilo de vida saudável no período pós-operatório. Ao contrário do que se possa imaginar, a cirurgia por si não torna a pessoa mais ativa –para esse fim, a ferramenta é comportamental.

E a boa notícia vem justamente da observação de que pacientes que participam de exercícios supervisionados nos meses seguintes à cirurgia não apresentam retrocessos nas melhoras clínicas. Ao contrário: a atividade física potencializa os benefícios metabólicos e cardiovasculares do procedimento cirúrgico.

Além disso, a prática de exercícios é capaz de prevenir as perdas de massa muscular, funcionalidade e massa óssea –efeitos adversos frequentemente associados à cirurgia.

Portanto, nossos estudos trazem 5 importantes lições:

1) A cirurgia bariátrica é um tratamento importante da obesidade grave, mas seus efeitos positivos são menos duradouros na ausência de modificações do estilo de vida;

2) A prática de exercícios é uma estratégia simples, segura e eficaz que pode sustentar os benefícios e atenuar os efeitos indesejáveis da cirurgia;

3) A obesidade é uma condição complexa e multifatorial, contra a qual não existe uma bala de prata;

4) O procedimento cirúrgico não substitui a boa alimentação e a prática de atividade física no combate à obesidade. A busca por um estilo de vida mais saudável não deve cessar após a operação;

5) O acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar é peça-chave no sucesso de longo prazo da intervenção cirúrgica. A inatividade física não se corrige no bisturi.

Lembremos também que a cirurgia bariátrica é coberta pelo Sistema Único de Saúde, felizmente. Assim, assegurar que os dividendos desse procedimento perdurem não deixa de ser um exercício de bom uso dos sempre escassos recursos da saúde.

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