A eficácia da máscara no combate à Covid-19 é incontroversa. Para que você, leitor, tenha a dimensão da proteção conferida pela ferramenta, trago um dado. O Instituto de Avaliações e Métricas de Saúde, da Universidade Washington, projeta 360 mortes diárias no Brasil em 21 de novembro. Se 95% das pessoas resolvessem usar máscara em locais públicos, os óbitos despencariam para 60.
Para a imensa maioria, o uso da máscara é um fardo administrável –antes ela do que um respirador, ponderariam os mais ajuizados. No entanto, o item de proteção pode incomodar durante o esforço. Afinal, seu uso é recomendável para quem treina?
No início da pandemia, a OMS desaconselhou o uso de máscaras durante o exercício por causar desconforto respiratório. Entretanto, as recomendações genéricas dessa entidade devem sempre ser consideradas à luz das particularidades epidêmicas locais –no Brasil, onde nunca houve efetivo controle de transmissão, ainda não podemos abrir mão das medidas preventivas.
Como discutido aqui, o não uso de máscara está associado com surtos em academias, aulas de dança e esportes de maior interação. Daí a prudente recomendação para o uso do item de proteção durante o exercício, especialmente em ambientes fechados.
Não há evidências de prejuízos à saúde quando nos exercitamos com máscara. As modificações no padrão de troca de gases são sutis e o suposto risco de reinalação de CO2 retido no instrumento de proteção não preocupa. Porém, sabemos pouco sobre os efeitos da máscara em atletas, cujo desempenho pode ser afetado por mínimas perturbações fisiológicas. Investigamos o assunto num estudo realizado pelo nosso grupo de pesquisa da USP, em parceria com a UFRN.
Velocistas e saltadores com bons índices esportivos realizaram duas sessões de treinamento em dias distintos, com ou sem uma máscara de tecido, do tipo recomendado pela OMS. Antes e após cada sessão, testamos o desempenho de potência dos atletas. Com o item de proteção, os participantes relataram maior esforço e menor prazer com o exercício. Entretanto, ao contrário do que esperávamos –e do que esperavam os próprios atletas–, o rendimento físico não caiu.
Os achados podem guiar atletas e treinadores na difícil decisão de adotarem ou não a máscara durante os treinos. Num cenário descontrolado de transmissão viral, os prejuízos clínico, financeiro e competitivo decorrentes de uma infecção para o atleta e sua equipe parecem superar os desconfortos atrelados ao uso da proteção. É o que nos ensina o caso de Sam Kendricks, americano do salto com vara que recebeu diagnóstico positivo para Covid-19 e está fora da Tóquio-2020; como três atletas australianos tiveram contato com o infectado, todos os 56 membros da equipe de atletismo foram preventivamente isolados.
Neste Jogos, atletas como o Lucão e a Macris adotaram a máscara nas partidas de vôlei, sem sabidas intercorrências. Em modalidades dessa natureza, que envolvem tiros curtos e longos períodos de recuperação, é possível que a proteção não afete o desempenho. Porém, naquelas caracterizadas por corridas longas sem pausas ou com curtos períodos de descanso (ex.: maratona, futebol, basquete), a queda de rendimento pode ser inevitável.
Já para você que está distante de ambicionar uma medalha olímpica, a segurança proporcionada pela máscara sobreleva qualquer eventual perda de rendimento. Durante os treinos, use a ferramenta de proteção, troque-a quando úmida e, se preciso, reduza a intensidade. Por ora, o que importa é se manter ativo.
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