Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Estudantes devem ser ouvidos sobre novo ensino médio

Se não aprendermos com erros do passado, proposta pode se tornar catástrofe política

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Para além de representar uma nova forma de precarização pedagógica, o novo ensino médio pode se tornar uma catástrofe política. Por isso, é urgente aprender com erros passados.

Há mais de sete anos, o governo do estado de São Paulo anunciou uma reestruturação escolar. A ideia era separar as unidades escolares de acordo com os diferentes ciclos de estudo, o que implicaria no fechamento de mais de 90 escolas estaduais.

As pesquisas que subsidiaram tal projeto eram frágeis e foram duramente criticadas à época. Porém, pior do que isso, os sujeitos que seriam diretamente afetados pela reforma, os estudantes, nem sequer foram consultados.

Protesto de estudantes em São Paulo pede a revogação do novo ensino médio - Bruno Santos-15.mar.23/Folhapress

De um dia para o outro, muitos souberam que suas escolas seriam fechadas. Ou que seria necessário mudar para uma escola distante para continuar os estudos. Para além dos problemas de deslocamento, laços de sociabilidade com colegas, professores e funcionários seriam bruscamente interrompidos sem uma justificativa crível.

Os estudantes tentaram buscar soluções por meio do diálogo, mas o poder público permaneceu de portas fechadas. Sem ter a quem recorrer, decidiram se mobilizar, inspirados em um manual escrito por estudantes chilenos sobre como ocupar uma escola. Pouco tempo depois, mais de 200 escolas seriam ocupadas pelos próprios alunos ao final de 2015.

O governo paulista, então comandado por Geraldo Alckmin, entendeu erroneamente que o movimento era controlado por organizações de oposição e se recusou a falar com os estudantes. Por conta disso, as ocupações se estenderam no tempo, gerando uma cascata de prejuízos, entre os quais a não realização da prova do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) em 174 escolas, e a absurda criminalização de estudantes, familiares e professores.

As ocupações em São Paulo logo inspiraram estudantes Brasil afora. No ano seguinte, ocorreram ocupações em escolas de diversos estados em protesto a medidas impostas sem qualquer abertura para a participação democrática.

Em Mato Grosso e Goiás, quase 30 escolas foram ocupadas. No Espírito Santo foram cerca de 60 ocupações. No Ceará, quase 70. No Rio de Janeiro, cerca de 80. E os estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul somaram 150 ocupações cada, aproximadamente.

O estado do Paraná, porém, bateu o recorde: quase 850 escolas estaduais ocupadas. De acordo com os organizadores do livro "Ocupar e Resistir. Movimentos de Ocupação de Escolas pelo Brasil (2015-2016)", os secundaristas paranaenses realizaram o segundo maior movimento de ocupações de escolas do mundo.

Ao lado de mineiros e capixabas, os paranaenses questionavam justamente a proposta do novo ensino médio, o "NEM", que fora imposta de forma apressada e autoritária durante o governo Temer por meio de uma medida provisória.

Passados sete anos, as reclamações sobre o novo modelo se avolumaram. Sindicatos e as associações científicas já vinham se manifestando contra a reforma por motivos amplamente divulgados em artigos científicos, livros e meios de comunicação, mas agora os estudantes (re)começaram sua própria campanha.

No último dia 15 o mote #RevogaNEM passou a circular nas redes sociais. Será que finalmente serão ouvidos?

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