Casos do Acaso

Série em parceria entre a Folha e a Conspiração Filmes. Narrativas enviadas pelos leitores poderão se transformar em episódios audiovisuais criados pela produtora. Veja como participar no fim do texto

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Casos do Acaso

Encontrei o amor da minha vida após um crime em Paris

Minhas primeiras horas na capital francesa foram na delegacia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Camila Alves

Gerente de Customer Success, mora em Paris, na França

Meu caso do acaso é uma história de amor na cidade mais romântica do mundo, mas que se passa em um ambiente nada encantador, e que envolve uma pandemia e um crime.

Tudo começou em uma viagem de férias com amigos a Paris que, por si só, já foi um acaso. Compramos nossas passagens em uma tarde no escritório, em um ato impulsivo, após nosso colega receber um email com uma promoção de passagens para a França utilizando um programa de milhagem do qual fazíamos parte. Em algumas horas havíamos decidido tirar férias juntos e aproveitar a promoção. Viagem marcada: março de 2020.

Desembarcamos em Paris no mesmo dia que o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciaria o primeiro confinamento para contenção do vírus da Covid-19. No dia seguinte, meu futuro namorado deixaria Paris para passar a quarentena no interior do país, mas isso eu só saberia alguns meses adiante. Nossa viagem havia fracassado logo em seu início. Os dias seguintes foram noites não dormidas tentando remarcar o retorno ao Brasil.

Voltei com meus 700 euros em espécie não gastos e um Museum Pass, do meu plano de visitar o máximo de museus possível. Alguns meses antes, eu havia finalizado um curto curso de arte moderna e sonhava que nessa viagem visitaria as obras que eu havia estudado. Paris ficou na minha cabeça e, assim que possível, eu iria retornar.

Passados os primeiros meses de confinamento, a Europa viu seus casos diminuírem e começou a reabrir. Eu estava trabalhando remotamente, pois minha empresa havia fechado todos os escritórios, e combinei com meu chefe de trabalhar por um mês da Irlanda, onde possuímos filial e onde meu melhor amigo também mora. Seria uma oportunidade de passar um tempo com ele e, além disso, visitar a França e realizar um pouco do plano das férias.

Cheguei à Europa pelo único país que estava permitindo a entrada de estrangeiros: Inglaterra. Após completar uma quarentena exigida em Londres, planejei uma breve visita a Paris antes de efetivamente ir ao destino final, Dublin.

Uma única mulher, de máscara, faz uma corrida na Praça Trocadero, em Paris, completamente vazia por causa do lockdown, enquanto a Torre Eiffel aparece ao fundo.
A Praça Trocadero, de frente para a Torre Eiffel, em Paris, durante o lockdown para conter a propagação do novo coronavírus - Ludovic Marin - 02.nov.20/AFP

Em St Pancreas, em Londres, embarquei no trem Eurostar, que em algumas horas me levou à Gare du Nord, em Paris. Na famosa estação parisiense, uma sucessão de decisões que mudaram meu destino: pegar um táxi ou metrô até minha hospedagem?

Meu celular ficou sem sinal e não conseguia consultar no mapa qual seria a linha de metrô e qual estação. A alguns metros, os taxistas me esperando. A corrida seria curta, não mais que 12 euros, mas me contive uns 15 minutos tentando me conectar em algum wifi para tomar uma decisão. Conectada, decidi pegar o metrô, que saia da mesma estação (muito simples aparentemente).

Dentre várias máquinas de bilhetes, escolho uma que apresentou vários problemas.

Segunda má decisão: tentar pagar meu bilhete de metrô com dinheiro em espécie e não com meu cartão. Eu estava com quase a totalidade dos meus 700 euros da viagem anterior em uma carteira, e não conseguia gastá-los em quase nenhum lugar. Devido à Covid, os estabelecimentos não estavam aceitando notas, então quis tentar utilizá-las onde poderia.

Por fim, não era possível usar dinheiro em espécie. Mas a breve tentativa foi o suficiente para avistarem minha carteira e o dinheiro. Já ao tentar comprar os bilhetes com meu cartão, a máquina emperrou tempo suficiente para que ladrões furtassem minha bolsa, minha carteira de viagem com os euros e, de quebra, meu passaporte.

Com um monte de malas na mão, entrei na estação de metrô e logo constatei que minha carteira não estava mais em minha bolsa. Voltei correndo para os guichês para verificar se poderia tê-la esquecido ou deixado cair, mas ninguém avistou nada. Seria mais adiante, ao contar minha tragédia às pessoas, que eu descobriria que Gare du Nord é campeã em pickpocket.

Minhas primeiras horas em Paris foram na delegacia. Meus primeiros dias, assim como na viagem anterior, se resumiram a chorar e a tentar resolver transtornos. Após uma saga com o consulado (em época de pandemia) e com documentação, fiquei presa no país sem meu passaporte.

Mais uma tentativa fracassada em Paris e por mim teria sido a última. Só queria ir embora e nunca mais voltar. Lembro de encontrar uma colega brasileira na cidade, que meu chefe me apresentou, e ela me dizer: “Não fique triste, quem sabe você não está presa aqui porque vai encontrar o amor da sua vida?”.

De fato, o encontrei. Em uma sequência de outros acasos: seu apartamento, seu trabalho, minha hospedagem, a escola de francês que eu havia começado a frequentar estavam todos em um raio de dois quilômetros.

A história continua com várias reviravoltas: meu retorno ao Brasil, segundo confinamento na França, ele indo ao Brasil e fazendo o mesmo (trabalhar remoto) para podermos ficar juntos. E muitos outros obstáculos que fomos encontrando para coninuar juntos em um momento de fronteiras fechadas.

Hoje, estou em Paris com ele, falando francês, e constituindo nossa família, que no momento somos nós e seu cachorro. E, claro, visitei todos os museus que queria.

Para participar da série Casos do Acaso, o leitor deve enviar o seu relato para o email casosdoacaso@grupofolha.com.br. Os textos devem ter, no máximo, 5.000 caracteres com espaços e precisam ser inéditos, não podem ter sido publicados em site, blog ou redes sociais. As histórias têm que ser reais e o autor não deve utilizar pseudônimo ou criar fatos ou personagens fictícios.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.