Esta é a história de quatro jovens que moram em São Paulo: Nayara, 30, Renata, 29, Vittor, 30 e Gustavo, 29.
Nayara e Renata são primas e cresceram juntas. Elas sempre brincavam e faziam muitos planos, cada uma à sua maneira. Renata queria casar cedo, ter filhos e uma vida estabilizada. Nayara tinha espírito livre e sempre acreditou que o acaso tem uma maneira própria de fazer com que boas surpresas cheguem e proporcionem algo muito melhor.
Casamento, filhos e outros assuntos que costumam ser partes essenciais dos planos de qualquer ser humano eram, para Nayara, sempre assuntos em aberto —a vida trataria de resolvê-los da melhor forma.
Planos e visões de vida à parte, as duas continuavam ali: conversas e confissões de uma fase intensa de descobertas típicas da adolescência. Ainda não sabíamos, mas era ali que as relações do acaso desenhariam o futuro.
Apesar da proximidade das duas, elas tinham amizades e conversas diferentes e também estudavam em escolas diferentes. Aliás, no quesito estudo, nessa época, elas eram daquelas alunas que estudavam o suficiente para que os pais não precisassem se preocupar.
Em alguns dias, elas tinham mais dedicação; em outros, nem tanto. Essa instabilidade nos estudos nos leva a outra pessoa dessa história, o Gustavo (talvez o acaso seja o melhor caminho para grandes encontros).
Nos dias em que Renata não estava muito a fim de estudar, dizia aquela frase comum entre os adolescentes: “Hoje vou colar do Gustavo”. Quem era esse Gustavo? Eu também não sabia, mas sempre achei que fosse alguém bem inteligente. Era sempre ele que “salvava” a Renata.
Tempos depois, Renata começou namorar. Ela estava com 14 anos, e Jeferson, seu namorado, estava com 15. Com o tempo, Renata e Nayara já não estavam tão próximas, ao contrário da amizade de Nayara e Vittor —eles se conheceram na escola e se tornaram melhores amigos.
Por volta dos 20 anos, Vittor começou namorar com Rhuan —eles se conheceram numa rede social. Vittor nasceu em Alagoas, mas mora em São Paulo há muitos anos, e Rhuan é de Goiânia. O relacionamento deles, apesar de conturbado, foi bastante duradouro (cerca de 7 anos).
Em uma das brigas do casal, Vittor ligou para Nayara, como sempre fazia quando precisava conversar e desabafar com alguém. Já era madrugada, e ela não atendeu. Estava passando as férias na praia com os pais, e o celular estava no silencioso, como de costume.
Vittor ficou revoltado: chorou, xingou, tentou uma, duas, dez vezes e nada. Ao ver que não teria sucesso, teve uma ideia: criar um perfil para a amiga em uma rede social. Tinder era a rede da vez! Vittor sempre cobrava a amiga: “Você precisa fazer um Tinder”. Nayara não dava muita bola para isso, já tinha encontrado algumas pessoas que havia conhecido em redes sociais, mas nada que valesse muito a pena.
Enfim, Vittor criou o perfil de Nayara, que no dia seguinte retornou a ligação do amigo e, pela quantidade de chamadas perdidas, já imaginava que algo não estava certo. Depois do desabafo, Vittor contou: "Criei o seu perfil no Tinder. Como eu não tinha nada para fazer e você não me atendia, fiquei me distraindo com as fotos dos boys".
Bom, já que o perfil estava criado, Nayara resolveu usá-lo....
Depois de alguns "matches", sem muita importância, um menino chamou atenção. Primeira palavra que veio à mente de Nayara? Nerd! Cara de nerd. Perfil: Gustavo, 24 anos. A descrição do perfil estava sem informações, mas pela foto parecia simpático, interessante, talvez tímido, e, como já disse, nerd. Disso eu não tinha dúvida!
Depois de algumas conversas (muito tímidas), o assunto começou a fluir. Gustavo estava sempre desenhando, e Nayara estava colocando os episódios de The Walking Dead em dia. Aliás, esse era um ponto em comum entre os dois, e muito da conversa começou por conta da série e da opinião em comum que os dois tinham sobre a trama. Além do programa, assuntos acadêmicos e planos futuros também se encaixavam muito.
A essa altura, Nayara já havia terminado a faculdade em letras, já estava na reta final da pós-graduação e havia se encontrado onde menos esperava: nos estudos.
Gustavo sempre gostou de estudar, tem uma incrível aptidão com os números. Tentou cursar química no ensino médio, mas se encontrou mesmo em ciência da computação. Após passar um ano no Ciência sem Fronteiras, voltou para casa. Esse Gustavo é o mesmo lá do começo dessa história, o menino que “salvava” a Renata nos dias de provas, e que, por acaso do destino, deu "match" no perfil da Nayara no Tinder.
O acaso foi o senhor desse encontro. Foi melhor que qualquer planejamento. Eles se encontraram de uma forma muito inesperada, mas no momento certo para os dois. Estão juntos há cinco anos.
Para participar da série Casos do Acaso, o leitor deve enviar seu relato para o email casosdoacaso@grupofolha.com.br. Os textos devem ter, no máximo, 5.000 caracteres com espaços e precisam ser inéditos, não podem ter sido publicados em site, blog ou redes sociais. As histórias têm que ser reais e o autor não deve utilizar pseudônimo ou criar fatos ou personagens fictícios.
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