A agenda anti-Moro, tema da nossa coluna anterior, é um aspecto da agenda anti-Lava Jato. Agenda essa que avançou desabridamente quando a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo requisitou acesso indiscriminado a todas as bases de dados nas quais se arquivam todos os documentos sigilosos dos seis anos da operação, incluindo informações sobre investigações em curso.
A ação de Lindôra —braço direito de Augusto Aras, nomeada por ele chefe da Lava Jato e vista por alguns como associada ao bolsonarismo— foi o estopim que tornou pública a animosidade entre a PGR e a principal força-tarefa da Lava Jato.
Em ofício enviado à corregedoria do MPF, 14 procuradores comunicaram o estranhamento com a busca indiscriminada de documentos, registrando, inclusive, que uma das pessoas que acompanhavam a subprocuradora em sua nebulosa missão teria afirmado que estavam fazendo um “inventário bem grande”.
Pois bem, pouco confortáveis com a ideia de inventariar a Lava Jato, três procuradores pediram demissão.
Outro fator de atrito entre procuradores da Lava Jato em Curitiba e a PGR é a proposta de criação de um órgão central para concentrar informações e decisões relativas ao combate à corrupção. A Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Unac) seria coordenada por alguém escolhido por Aras, que, lembremos, já era crítico da Lava Jato e foi escolhido por Bolsonaro fora da tradicional lista tríplice.
Se muitas vezes a campanha contra a Lava Jato centra fogo no ex-ministro Sergio Moro, outras tantas vezes ataca os procuradores da força-tarefa de Curitiba, especialmente Deltan Dallagnol, que será julgado a qualquer momento por ter abusado de poder ao conferir, em 2016, palestra com PowerPoint em que o nome “Lula” centralizava gráfico descritivo do esquema do “Petrolão”.
Abuso de poder, porém, é a própria corrupção e não o seu combate.
Abusivo é se eleger sob a insígnia da Lava Jato e permitir seu desmonte.
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