O presidente Jair Bolsonaro e o PT uniram esforços em direção a um mesmo fim. Embora apelem para o antagonismo no nível do discurso ideológico, a necessidade de desmontar a Operação Lava Jato igualou-os como criaturas de um mesmo pântano. Como o discurso que sustentam é falso, traem-se a todo instante, deixando clara a falta de compromisso com a ética, com o estado de direito, com o espírito republicano, com a justiça ou com a própria visão de mundo que diziam defender.
Não é de estranhar, pois, o ato falho do ex-presidente Lula que, em entrevista ao jornal El País, afirmou que não irá “enganar o povo mais uma vez”; ou a cínica declaração de Bolsonaro de que teria acabado com a Lava Jato por não haver mais corrupção no seu governo.
O que causou alguma estranheza foi ver jornalistas antes críticos do que chamavam de imprensa “chapa branca” se prestarem a tratar a referida declaração como sendo uma refinada ironia, como se não houvesse fatos evidenciando o acordo de Bolsonaro com as criaturas mais pantanosas da política no sentido de fragilizar o combate à corrupção.
Tais fatos foram didaticamente expostos por Renan Calheiros em entrevista à CNN, na qual defendeu o “grande legado” que Bolsonaro pode deixar para o Brasil: o desmonte da Lava Jato, que teria montado um “estado policialesco”. O senador Calheiros lembrou que o presidente “encadeou várias medidas”, como a questão do Coaf, da Receita, a nomeação de Aras, a demissão de Moro, e, por fim, “a nomeação do Kassio”.
O entusiasmo com essa indicação ao STF foi tão generalizado entre as “criaturas do pântano” da política quanto o foi a decepção entre aqueles que almejavam uma indicação séria e republicana.
Irritado com as cobranças, o presidente xingou até seus próprios seguidores, chamando os apoiadores que o criticaram de “direita burra”. A direita inteligente, presume-se, seria aquela que se cala diante do clamoroso estelionato eleitoral protagonizado pelo mito.
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