Desde a ágora ateniense, com os cidadãos construindo seus consensos e suas leis, abre-se o caminho, muitas vezes tortuosos, da democracia, regime no qual as leis promulgadas preservam a liberdade de cada um, limitando-a até a extensão em que atinge a liberdade do outro, funcionando, nesse sentido, como defesa contra tiranias. Política, no seu sentido original, grego, é a virtude aplicada às questões do bem comum, às questões da "polis", a cidade-Estado. O agir político é, em si, o agir correto.
Para Aristóteles, a excelência política depende da phronesis, a prudência, virtude próxima do bom senso. Na linha aristotélica da virtude como mediania entre dois extremos viciosos, cabe à prudência afastar os vícios.
Os extremismos de esquerda e de direita que fizeram a desgraça do mundo no séc. 20 foram extremismos declarados. Neste século, porém, um extremismo camuflado vem tentando se impor sob a denominação de "politicamente correto".
Os agentes do politicamente correto se julgam e se declaram como representantes progressistas do bem em confronto com as entidades atrasadas do mal. Nesse confronto, porém, ultrapassam, muitas vezes, os limites do bom senso, descambando para o ridículo, como é o caso da tentativa de aplicar a neutralidade de gênero à gramática.
Começar uma carta oficial da escola com "Querides alunes" pode ser só mais uma forma de aleijar a já maltratada língua portuguesa, mas o que hoje desprezamos por ridículo amanhã poderá ser nossa escravidão. O uso da linguagem como método de dominação das mentes não é novidade e já foi descrito no livro "1984", de Orwell.
Por outro lado, a antipatia que o politicamente correto desperta em amplos setores impulsiona uma reação extremista de viés contrário e nessa falta de bom senso e de prudência patinamos, oscilando entre discursos revolucionários e reacionários, com o pêndulo distante do equilíbrio de um discurso correto.
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