Cecilia Machado

Economista-chefe do Banco BoCom BBM, é doutora em economia pela Universidade Columbia

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Os desafios econômicos da China nos próximos cinco anos

Freio da atividade global adiciona complexidade para economia asiática

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No dia 16 de outubro, inicia-se o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, um evento que acontece de cinco em cinco anos e que culmina com a definição dos 25 membros do Politburo e dos membros da Comissão Permanente, incluindo o cargo de secretário-geral, atualmente ocupado por Xi Jinping.

O Politburo é a instância de maior poder deliberativo dentro do partido, mas tem na Comissão Permanente um grupo seleto de maior liderança, que guia as discussões de política e toma decisões quando o Politburo não está em sessão.

A pouco mais de três semanas do fim do segundo mandato de Xi, restam poucas dúvidas de que ele deve seguir no cargo, mas um terceiro mandato marca uma transição sem precedentes na história recente da China. Em 2018, uma emenda à Constituição de 1982 retirou o limite de dois termos para a Presidência da China, cargo de governo que vem sendo exercido pelo secretário-geral do partido (de forma concomitante) desde 1993.

Imagem de Xi Jinping aparece durante show em estádio de Pequim em comemoração ao centenário do Partido Comunista
Imagem de Xi Jinping aparece durante show em estádio de Pequim em comemoração ao centenário do Partido Comunista - Thomas Peter/Reuters

Os dois últimos líderes antes de Xi, Jiang Zemin (1993-2003) e Hu Jintao (2002-2013), se aposentaram imediatamente após o fim do segundo mandato, tanto de suas funções governamentais como de suas funções no partido.

Se, de um lado, a continuidade de Xi como secretário-geral do partido parece bastante provável, de outro, algumas indefinições sobre os membros Comissão Permanente do Politburo, o círculo político que ficará mais próximo de Xi no próximo mandato, ainda pairam no ar.

Ao menos dois membros, que completaram 68 anos ao longo do último mandato, devem se aposentar, deixando em aberto duas posições na Comissão Permanente. E o atual premiê, Li Keqiang, com 67 anos e elegível para mais um termo como membro da Comissão Permanente, deve ocupar outra função dentro da Comissão Permanente ou então se aposentar, já que há um limite de dois termos na função de primeiro-ministro.

A nova configuração da Comissão Permanente será crucial para execução dos objetivos de desenvolvimento postas no 14º Plano Quinquenal, com metas ambiciosas para a transição energética e para a política de inovação e tecnologia, em um contexto no qual a economia dá fortes sinais de desaceleração, e no qual o modelo de crescimento baseado na retomada do consumo interno fica posto em xeque com as incertezas associadas à política de Covid zero e com os desdobramentos da crise no setor imobiliário.

Apesar de o número de novos casos diários de Covid-19 seguir abaixo de mil, a dispersão geográfica nas transmissões vem tornando usuais os lockdowns regionais, especialmente em cidades menores, o que coloca enormes desafios à política de controle e testagem e mina a confiança de que restrições à mobilidade serão superadas, em futuro próximo, nesses lugares.

Além disso, há razões estruturais por trás da desaceleração do setor imobiliário. O crescimento populacional e a urbanização, que foram grandes responsáveis pelo crescimento do setor nas últimas décadas, passaram a se tornar fatores limitadores.

É possível que a China tenha atingido o pico populacional neste último ano, em razão das baixas taxas de fecundidade reveladas no Censo mais recente. Os dados também mostraram que o país se tornou muito mais urbanizado do que se esperava, atingindo taxa de 65%, com dezenas de milhões de pessoas migrando do norte para o sul do país. Daqui para a frente, o desempenho do setor deve passar a depender do crescimento da economia e da renda da população, através da demanda por unidades maiores e da renovação dos espaços já construídos.

Eleito desde 2012 como secretário-geral do partido e em 2013 como presidente, Xi assistiu a uma verdadeira transformação econômica e social da China nos últimos anos. O país, que crescia a taxas próximas de dois dígitos nas décadas passadas, deve crescer bem menos que 5,5% em 2022, a meta para o ano.

Apesar de a extrema pobreza ter sido erradicada, os desafios sociais se tornaram outros, como a elevada taxa de desemprego entre os jovens, próxima de 20%.Considerando a importância do setor externo para desempenho recente da economia, a desaceleração da atividade global adiciona complexidade para os próximos anos. Desafios que certamente estão à altura da estatura conquistada pela China, hoje a segunda maior economia do mundo.

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