Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Intervenção no Rio é jogada política de Temer, mas indica fracasso do governo

Presidente, que assumiu com compromisso de reformas, não vai fazer a mais importante de todas, a da Previdência

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O presidente Michel Temer assina decreto de intervenção das Forças Armadas na segurança do Rio de Janeiro com o deputado Rodrigo Maia e o governador Pezão - Pedro Ladeira - 16.fev.2018/Folhapress

A intervenção federal na segurança do Rio tem como objetivo ressuscitar Michel Temer, que não só já tinha morrido como também já havia aparecido como assombração no desfile da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

A justificativa que sobrou para a instauração de Temer como presidente da República em 2016 foi a necessidade das reformas. Temer não vai fazer a reforma mais importante de todas, a da Previdência. O governo Temer foi, portanto, um fracasso nos termos que havia estabelecido para sua própria avaliação até a última sexta-feira. Começou como "Ponte para o Futuro", terminou como ciclovia Tim Maia.

Dentro deste quadro, a intervenção pode ter sido uma boa jogada política. Diga o que quiser do PMDB: todo mundo ali é profissional, todo mundo ali sabe jogar. Quando viram que iam perder no jogo, mudaram de jogo.

Uma vez que não se pode mudar a Constituição durante intervenções, Temer dirá que é por isso que não fará a reforma da Previdência. É mentira. A reforma não ia ser aprovada porque Temer gastou o capital político necessário para aprová-la se livrando das acusações da PGR.

Mas a manobra peemedebista da última sexta-feira tem chance de funcionar.

Não é impossível que a presença de mais tropas no Rio de Janeiro diminua a escalada de violência por algum tempo, em especial se traficantes e milicianos souberem que será só por um tempo.

E uma pausa na violência carioca pode ajudar Temer a somar alguns pontos de popularidade ao que já deve conquistar pela melhora da economia. Em uma eleição com alto grau de fragmentação, isso pode ser suficiente para um candidato governista chegar ao segundo turno, ou para ter o que vender para quem chegar. Temer quer ser candidato, ou quer apadrinhar alguém, e a intervenção foi o primeiro ato de campanha do PMDB.

A jogada também é boa porque abre uma cabeça de ponte no eleitorado bolsonarista. Bolsonaro se opôs à intervenção, e torce apaixonadamente para que ela dê errado. Como disse na última coluna, em 2014 Dilma teve medo que Marina se tornasse o "Lula de saias". Agora Bolsonaro teme que o candidato governista se torne "Bolsonaro de calças com metade do número de pernas".

Finalmente, Temer tem a chance de mudar o foco do noticiário, e dos órgãos policiais, da corrupção para a criminalidade comum. Recursos que poderiam ir para a Lava Jato agora podem ir para o combate ao tráfico de drogas, um dos poucos itens no Código Penal que não constam nas acusações contra a cúpula peemedebista. Que eu saiba.

Enfim, o PMDB foi inteligente e tomou uma decisão que pode beneficiá-lo politicamente. Isso é comum. Resta saber se a decisão que beneficia o PMDB será boa para o país. Isso é mais raro.

Afinal, a intervenção peemedebista tem toda cara de Plano Cruzado: algo feito para dar certo só até a eleição.

Mas a situação da segurança é urgente, e não basta denunciar a picaretagem da cosa toda. É preciso aproveitar a mobilização causada pela intervenção e fazer agora a discussão séria sobre segurança que está tão atrasada. De um jeito ou de outro, precisamos transformar esse Plano Cruzado em um Plano Real, apesar de Temer, apesar de tudo.

Pois, lembre-se: se der errado, Bolsonaro já tem pronto o discurso de que faltou matar mais gente.

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