Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Lula precisa defender moderação econômica para se eleger em 2022?

Petista poderia conseguir trégua, mas estratégia centrista em economia trará riscos eleitorais

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Sou um defensor entusiasmado da passagem de Antônio Palocci pelo Ministério da Fazenda. Defendi Joaquim Levy em minhas primeiras colunas na Folha. Como se pode imaginar, torço para que Lula adote um programa econômico mais “fiscalista” do que o defendido pelo petista médio. Mas minha questão hoje é outra: Lula precisa defender esse programa para se eleger?

Não há dúvida de que isso lhe traria algumas vantagens. Por exemplo, aposto que mais gente do MDB teria ido ao jantar do Eunício se Lula já tivesse angariado mais simpatia na elite econômica.

É difícil imaginar a mídia brasileira apoiando Lula em 2022, mas gestos de moderação poderiam lhe comprar uma trégua, em especial depois de quatro anos de guerra bolsonarista contra o jornalismo independente. É possível imaginar cenários em que essa estratégia desse a Lula os votos que lhe faltam para vencer no primeiro turno.

Imagem mostra silhueta do ex-presidente Lula da Silva durante conferência em Brasília
O ex-presidente Lula (PT) fala durante conferência em Brasília, na última sexta (8) - Ueslei Marcelino/Reuters

Por outro lado, independentemente do que eu acho que Lula deveria fazer pelo Brasil, uma estratégia centrista em economia também lhe trará riscos eleitorais, caso a coalizão que elegeu Bolsonaro sobreviva até 2022.

Concorrer com Jair Bolsonaro não é a mesma coisa que concorrer com Fernando Henrique Cardoso. A disputa entre PT e PSDB dava-se justamente no debate econômico. Quando o PT adotava medidas econômicas mais fiscalistas, seus eleitores não tinham muito para onde ir: os tucanos eram ainda mais fiscalistas.

Bolsonaro não ganhou em 2018 por seu discurso econômico. Seu sucesso nas periferias pobres das grandes cidades, que explica muito de sua vitória, se deu pelo voto evangélico e pela pauta moral. É isso que explica o fascínio das elites brasileiras por Bolsonaro: ele parece ter inventado um jeito de ganhar voto de pobre sem gastar dinheiro ou criar cotas.

O outro lado disso é que o adversário de Bolsonaro não tem muito a ganhar adotando um discurso econômico moderado. Se Fernando Haddad, no segundo turno de 2018, tivesse defendido uma reforma da Previdência ambiciosa, Bolsonaro o denunciaria por matar velhinhos sem o menor constrangimento. A disputa é pelo pobre evangélico, que não está interessado em fiscalismo, muito pelo contrário.

Na verdade, uma vez que a esquerda nunca vai poder oferecer aos pobres evangélicos tudo que a direita pode oferecer nas pautas comportamentais, tem mais incentivos para buscar votos criticando o programa econômico de Bolsonaro/Guedes.

Não se trata apenas da campanha eleitoral. A probabilidade de Lula, ou, aliás, de qualquer outro candidato que derrote Bolsonaro, adotar um programa fiscalista em 2023 é inversamente proporcional à força que os bolsonaristas terão na oposição, em especial à força que manterão nas Forças Armadas e nas polícias. Se o recém-eleito tomar posse sob risco de golpe, não poderá arriscar a perda de popularidade que todo ajuste traz no curto prazo.

As chances de um “novo paloccismo” em 2023 são pequenas, ganhe quem ganhar. Governar depois de Bolsonaro, afinal, também não é como governar depois de FHC. Ainda acho que um reencontro de Lula com a responsabilidade fiscal é possível em termos razoáveis, em nome do interesse brasileiro. O que é indiscutível é que Bolsonaro dificulta a vida de quem, como eu, defende essa posição na esquerda.

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