Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Eleições 2022

Chapa Lula/Alckmin seria boa ideia, talvez boa demais para o Brasil de 2018

É de uma solução com esse espírito que o país precisa para voltar ao caminho que queremos

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Na última semana, Mônica Bergamo noticiou que Lula e Geraldo Alckmin discutem a formação de uma chapa para disputar a Presidência da República em 2022.

Sou a favor, mas tenho dúvidas se é possível. Talvez nós, como país, não tenhamos mais o nível de inteligência coletiva, senso de responsabilidade e caráter necessários para fazer algo assim.

É fácil imaginar uma chapa Lula-Alckmin entrando em curto-circuito porque as respectivas militâncias vão repetir os mesmos clichês cansados uns contra os outros, porque algum idiota como Sergio Moro vai entrar em cena dizendo: "Ó lá os políticos profissionais corruptos, não são como o Onyx que me pediu desculpas", ou porque a elite brasileira gosta dessa degeneração pestífera que é o Brasil de Bolsonaro.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-presidente Lula (PT), em inauguração de fábrica em 2014
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-presidente Lula (PT), em inauguração de fábrica em 2014 - Zanone Fraissat - 23.jul.2014/Folhapress

De qualquer jeito, ao menos como exercício, vou explicar por que eu acho que a chapa Lula/Alckmin seria uma boa ideia.

Seria uma oportunidade de fazer o que Marina Silva chamou de "integração de legados", uma proposta de retomada do Brasil a partir do que deu certo desde a redemocratização nos diferentes governos.

Não é só juntar o ajuste macroeconômico do PSDB com a redistribuição de renda do PT, seria questão de atualizar cada uma dessas propostas para o momento atual. Seguem alguns exemplos de acordos que um governo Lula/Alckmin poderia costurar.

Como todo mundo menos a mula do Guedes sabe, a melhor proposta de reforma tributária é a de Bernard Appy, um raro ex-membro da equipe de Palocci que já era próximo do PT antes de 2002 e hoje está mais próximo dos liberais.

Appy foi o economista "ortodoxo" mais importante a declarar voto em Haddad no segundo turno de 2018. Sua proposta é especialmente favorável ao setor industrial, que todos concordamos que precisa ser recuperado. Se tivessem vencido 2018, tanto Alckmin quanto Haddad teriam bancado o projeto de Appy.

Nem PT nem PSDB conseguiram tributar os ricos. Hoje o consenso sobre a necessidade de fazê-lo é mais consolidado do que jamais foi. Pode ser feito.

O maior celeiro brasileiro de "terceiras-vias", a centro-esquerda nordestina (Tasso-Ciro-Camilo no Ceará, PSB em Pernambuco, Dino no Maranhão) fez um belo trabalho na área de educação nas últimas décadas. Em um debate recente, a potencial ministra Tábata Amaral propôs o programa "educação básica como a de Sobral, ensino médio como o de Pernambuco". Dá pra fazer.

Bolsonaro e Guedes já mataram o teto do Temer, mas deve dar pra bolar um limite de gastos razoável. É bom lembrar que o primeiro projeto desse tipo foi do petista Nelson Barbosa.

Se a esquerda tem que encarar de frente o problema fiscal, os liberais precisam bolar um projeto para o mundo do trabalho que não seja só desregulamentação.

Não vejo por que não existiriam acordos possíveis com os sindicatos sobre qualificação profissional, recolocação ou a dinamização de setores que geram "bons empregos". No longo prazo, a sindicalização é a melhor maneira de tornar a regulamentação estatal desnecessária.

Um governo Lula/Alckmin não precisaria ser um governo de imobilismo por ser centrista: transformações profundas podem ser negociadas. Mesmo se a chapa não sair, é de uma solução com esse espírito que o Brasil precisa para voltar, não ao que era, mas ao caminho para o que queremos que seja.

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