Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Quanto dura o Carnaval do centrão?

Bloco vive seu auge sob Bolsonaro, mas situação não é estável

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O centrão vive uma era mais dourada do que suborno no MEC de Bolsonaro. Saqueiam dinheiro público com o orçamento paralelo, vivem impunemente desde que Jair desmontou as instituições de controle, vendem caro apoio aos candidatos presidenciais. O tanto de azar que o Brasil teve nos últimos anos, eles tiveram de sorte.

Eles parecem achar que isso vai durar para sempre, que a mudança no equilíbrio político é permanente. Já planejam racionalizar a coisa toda inventando um novo sistema, o semipresidencialismo, em que o presidente eleito perderá as funções de chefe de governo. Ficará, apenas, com as funções de chefe de Estado e de otário que vai preso quando a polícia pegar o esquema.

O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, participa do encontro nacional do PL - Pedro Ladeira/Folhapress

Também estão vendendo caro os apoios aos candidatos presidenciais. Olham para Lula, Bolsonaro e, com a ajuda de binóculos, para a terceira via, com uma cara de "Dessa vez não vai ser só 10%. Dessa vez eu quero tudo".

Mesmo assim, se eu fosse eles, baixaria minha bola.

O centrão se consagrou, em primeiro lugar, porque Bolsonaro nunca teve qualquer interesse em governar como presidente normal. Deixou a articulação no Congresso às moscas e rachou o próprio partido. Você vê que o sujeito não se importa com um problema quando o deixa a cargo do Onyx. Enquanto isso, Bolsonaro tentava articular nos quartéis, imagino que com algum general melhor que o Onyx. Nesse vazio, o centrão governou.

Em segundo lugar, o centrão se fortaleceu porque a oposição não podia denunciar suas manobras com muita veemência sem o risco de fortalecer o golpismo de Bolsonaro. Se fizesse uma passeata com a faixa "Lira ladrão", Jair diria: "Opa, beleza, então vamos fechar o Congresso e aproveitar o embalo para fuzilar vocês aí da passeata".

O centrão chegou ao seu apogeu na antessala do golpe. Não dá para viver eternamente na antessala do golpe. Em algum momento, ou tem golpe ou ninguém acredita mais na ameaça.

Em nenhum desses dois cenários o atual semipresidencialismo da mutreta é sustentável.

Se houver golpe, a partir do dia seguinte o orçamento será partilhado por Queiroz entre a turma do Jair. Ser deputado de Congresso fechado não vale nada.

Se o risco de golpe passar, a fiscalização democrática sobre o Congresso volta. Presidentes eleitos democraticamente receberão apoio da sociedade para desafiar o semipresidencialismo da mutreta. Voltará a ser seguro criticar o Congresso. Vocês querem estar com o orçamento secreto na mão quando a transparência voltar?

Por isso, se eu fosse o centrão, faria as duas seguintes coisas.

Em primeiro lugar, tentaria organizar uma retirada organizada até uma posição estrategicamente defensável. Organizem-se em partidos grandes e devolvam funcionalidade ao sistema. Voltem a reformar o sistema para que a corrupção diminua, como vocês fizeram em 2017. Aceitem a Quarta-Feira de Cinzas.

Em segundo lugar, não tratem Bolsonaro como um presidente qualquer em busca de reeleição. Esse dinheiro que ele vai lhes pagar em troca de apoio vai ser o último que vocês vão receber. Se Jair for reeleito, vai ter golpe. Apoiem Lula ou articulem outra candidatura.

Centrão, meu filho, em uma democracia não dá para fazer o que você anda fazendo. E, sem democracia, ninguém precisa de você.

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