Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Esquece o Moro, Lula

Ex-juiz jogou reputação fora quando apoiou Bolsonaro

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Lula, se eu fosse você, esqueceria o Moro.

Você já ganhou dele. Moro jogou fora o que lhe havia sobrado de dignidade, reputação, respeitabilidade profissional e direito de não ser tratado como militante de extrema-direita quando apoiou Jair Bolsonaro no segundo turno. O apoio foi uma confissão de que seu julgamento em 2018 foi mutretado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado - 21.mar.23/Reuters

Moro já havia denunciado Bolsonaro como corrupto, já havia declarado que havia mais aparelhamento no governo do Jair do que no seu, e mesmo assim topou fazer papel de Padre Kelmon no debate do segundo turno. Ali, ele já não precisava do apoio do Jair para se eleger senador. Ali, ele já sabia do horror que foi o governo Bolsonaro. Já tinha tentado ser candidato da terceira via denunciando esses horrores.

Sergio Moro topou se humilhar daquele jeito por ódio a você, Lula.

Perdeu.

Desde então, Moro é só um cara que mirou em Antonio di Prieto e acertou em Frederick Wassef. Nos últimos tempos, a vida de Moro vinha sendo dedicada a fingir que não tinha visto a muamba do casal Bolsonaro.

A propósito, em um evento do PL, Michelle Bolsonaro citou Provérbios 31:10 para dizer que uma mulher virtuosa vale mais do que joias. Se a ex-primeira-dama achasse isso mesmo, a Receita Federal teria achado uma árabe virtuosa na mochila do milico. Não foi isso que eles acharam.

E se alguém quiser se divertir, compare os ataques que Deltan Dallagnol fez a Lula semana passada com a defesa apaixonada da presunção de inocência em um artigo que publicou poucos dias antes no jornal Gazeta do Povo sobre a muamba das joias. O artigo é uma espécie de PowerPoint com "Jair Bolsonaro" no meio e em volta vários balões com os textos "Será?", "E se não for?", "Vai que foi, sei lá, o Lula?", em volta.

Valeu a pena dar palco pra esses caras voltarem ao horário nobre às suas custas, Lula? Você sabe que não.

Lula, ninguém aqui na mídia, na política, no empresariado, passou o que você passou nos últimos anos. Sua história vai ficar ótima escrita pelo Fernando Morais. Mesmo assim, há um motivo muito bom para você abandonar a guerra passada: você venceu, mas o Brasil ainda não.

Você ganhou a presidência de maneira espetacular. Tomou posse em uma festa linda. Derrotou o golpe de 8 de janeiro. Parou o genocídio yanomami. Começou a recuperar o prestígio internacional do Brasil. E as condições estão maduras para você passar reformas que inaugurarão uma nova fase de crescimento brasileiro: as duas tributárias, a regra fiscal, a provável mudança no ensino médio.

Mas acredite em mim: por incrível que pareça, por pior que tenha sido, a sua vida na cadeia depois de 2018 não foi tão ruim quanto a das brasileiras pobres ou dos brasileiros doentes de Covid sob o governo Bolsonaro. Você foi eleito para que a história dessa gente também tenha uma redenção, Lula, como a sua teve.

Por isso, esqueça a guerra que você já ganhou e concentre-se na guerra que o povo brasileiro ainda está perdendo: a briga para reconstruir o Brasil depois desse desastre.

Acostume-se com o fato de que muita gente que foi sua inimiga na guerra passada —na guerra que te colocou na cadeia— está do seu lado agora. Não é seu primeiro dia de serviço na política, certo?

Junte essa base política que se formou contra o golpe, aprove o programa do Haddad e corra para o abraço.

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