Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Cida Bento

'Se precisar, peça ajuda'

Para quem peço ajuda, se os que deveriam me proteger são a maior ameaça à minha vida?

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Neste Setembro Amarelo, mês da prevenção ao suicídio, vale lembrar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS - 2020), o Brasil é o segundo país com maior número de depressivos nas Américas. É também o país com maior prevalência de ansiedade no mundo, e o suicídio é a terceira principal causa externa de mortes.

Angústia, ansiedade e depressão, que já eram um problema no país, dispararam e, em alguns casos, quase dobraram com a pandemia da Covid-19, segundo as Nações Unidas (2020), e são fatores de risco para o suicídio.

Os índices de suicídio são altos em grupos que foram vulnerabilizados pela discriminação e pela exclusão social e mais afetados pelas crises como os desempregados, os que vivenciam a insegurança alimentar, os que são alvos da violência policial e aqueles que vivem em territórios brasileiros permanentemente ameaçados pela invasão predatória e pela ausência de políticas públicas.

O perfil das pessoas que mais cometem suicídio no Brasil nos últimos quatro anos é o de jovens negros, entre 10 e 29 anos de idade (Ministério da Saúde, 2019).

Suicídio entre crianças indígenas é 18,5 vezes maior do que entre crianças não indígenas e afeta principalmente meninas (58,2%), segundo Fernanda Garcia, reportando estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de 2019.

Situações de grande violência podem gerar muito sofrimento humano e psíquico e esvaziar o sentido da vida golpeando os vínculos que ligam as pessoas, abalando a confiança na comunidade, nas instituições, no país.

Acolher e reconhecer a pluralidade de grupos que compõem a sociedade, receber a denúncia pela injustiça sofrida por eles, bem como acolher a necessidade de reparação, tudo isso é um processo relacionado à cultura, ao direito e à política e permitem o reequilíbrio entre os diferentes grupos. O grupo é o verdadeiro local de circulação dos afetos, da possibilidade de tratamento e cura.

Chegamos ao mundo pelo corpo e pelo grupo, e nossa relação harmoniosa e afetuosa com ambos é que permite o enfrentamento dos desafios que a vida nos coloca.

A afeição humana é uma norma evocada pelas principais religiões e tradições e nos conduz a aceitar a diversidade de grupos em termos de uma humanidade compartilhada.

A violação da norma de afeição humana tem sido chamada de exclusão moral, que ocorre quando o preconceito coloca pessoas ou grupos fora do limite em que estão vigendo regras e valores morais, levando a um distanciamento psicológico e à ausência de compromisso moral em relação a estes grupos excluídos.

Políticas públicas nas áreas da saúde, educação, cultura podem auxiliar esses grupos, suas famílias, crianças e adolescentes a enfrentar os perigos de uma inserção acelerada em contextos globalizados, com intenso uso das redes virtuais que exigem muitas e rápidas mudanças sociais, orquestradas por um capitalismo desumanizado e excludente.

Cuidar de nossa saúde mental significa compartilhar e construir o destino coletivamente. Recuperar os laços sociais que permitem o sentimento de pertencimento e a confiança de que saberemos enfrentar os imensos desafios de um período histórico em que a civilização está “incivilizada” e o mal está tão presente e, como escreveu Hannah Arendt, tão banalizado.

A Anpsinep (Articulação Nacional de Psicólgas/os Negras/os e Pesquisadoras/es) está fazendo a sua parte, por meio da Campanha “Saúde Mental da População Negra Importa”, na certeza de que, com racismo, não há bem-estar possível.

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