Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Ressurgem, com a esperança, lembranças de um Brasil mais humanizado

É necessário emergir da mortandade, respirar fundo e reafirmar nossa luta pela vida

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Algumas mudanças de comportamento vêm sendo realizadas pelo governo federal no enfrentamento da pandemia, aparentemente como resposta a críticas feitas no discurso do ex-presidente Lula.

Nos últimos dias, integrantes do governo federal têm aparecido usando máscara e afirmado que são favoráveis à vacina e que nunca foram negacionistas. Também agilizaram a busca por outro ministro da Saúde, ante reiteradas críticas de natureza técnica ao predecessor.

O fato de o Brasil estar na dianteira, como o país com o maior aumento de mortes no mundo, a lentidão na vacinação e o colapso no sistema de saúde estão impactando as avaliações da população e, provavelmente por essa razão, 54% dos entrevistados pelo Datafolha, nesta semana, consideram o desempenho do governo federal na gestão da pandemia péssimo ou ruim.

Há que destacar aqui que empresários lideram o grupo que considera o desempenho do governo ótimo ou bom (38%). De outro lado, pretos (61%) e mulheres (58%) estão entre os grupos que o consideram ruim ou péssimo.

Assim, não é de estranhar que o discurso do ex-presidente Lula tenha gerado, em dois dias, cerca de 2,54 milhões de republicações no Twitter e mais de 159 mil no Facebook.

É fruto da esperança por uma alternativa diante do atual cenário de trágica mortandade em que o país está imerso. E, com a esperança ressurgindo, lembranças de um Brasil mais humanizado também ressurgem.

Lembranças de tempos recentes (2009), quando, por exemplo, foi formalizada no SUS a política pública “Saúde da População Negra”, como um reconhecimento de que o acesso aos serviços e equipamentos de saúde para essa população era desigual, o que ficou escancarado no período da pandemia.

Lembremos também que a principal lei do país sobre educação, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), foi alterada em 2003, tornando obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira na educação básica, e, posteriormente, o mesmo tratamento foi dado para a temática indígena e à Educação Escolar Quilombola, por meio de diretrizes próprias, ainda que a efetividade desses instrumentos normativos tenha ficado muito aquém do necessário.

Trata-se de legislação que exige muita pressão social para ser implementada, mas que já guarda em si potencial para valorizar a contribuição civilizatória, de natureza econômica, cultural e social de segmentos excluídos ou subrepresentados em diversos setores.

Ainda que não tenha resolvido a questão das desigualdades, é preciso reconhecer que, naquele tempo, o emprego formal passou de 45,7% do total da população ocupada, em 2004, para 57,7%, em 2014, segundo o SIS/IBGE 2015.

Podemos nos lembrar também de que, em 2019, pela primeira vez na história do Brasil, um percentual de 50,3% de estudantes negros estavam no ensino superior e eram maioria nas universidades federais (51%), revelando a eficácia das ações afirmativas, na modalidade de reserva de vagas, ainda que os desafios de permanência desses jovens na universidade continuem imensos.

Boas memórias de um país lutando para se tornar mais justo e humanitário podem vir do programa Minha Casa Minha Vida, que contribuiu para a autonomia feminina, pois mulheres tiveram preferência na assinatura da escritura. O percentual de casas em nome de mulheres chegou a 89%.

Olhando para aquele tempo, é preciso reconhecer que muito mais teria que ter sido feito para o alcance de uma sociedade mais civilizada, igualitária e digna, mas é fundamental ressaltar que importantes políticas públicas e sociais foram desenvolvidas, em direção ao bem viver de toda a população.

Assim é que, com a esperança ressurgindo, é necessário emergir da mortandade que assola o país, respirar fundo e reafirmar nossa luta pela vida.

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