Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Aprender na juventude, a nova base para o ensino médio

Proposta entregue ao CNE organiza conteúdos em áreas de conhecimento

Estudantes do ensino médio em sala de escola estadual em Guarulhos, na Grande São Paulo
Estudantes do ensino médio em sala de escola estadual em Guarulhos, na Grande São Paulo - Rivaldo Gomes - 29.mar.16/Folhapress

Na última terça-feira (3), foi entregue ao CNE (Conselho Nacional de Educação) a parte da Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio. Trata-se de um marco importante no esforço para melhorar a qualidade da educação, dado que é essa a fase em que nos saímos pior: de fato, não sabemos educar os jovens.

Vou me explicar: o Ideb, índice que mede a aprendizagem e a medida em que jovens continuam na escola e não repetem de ano, está estagnado há anos num patamar baixíssimo. Em outros termos: os adolescentes não sabem ler e interpretar textos (e possivelmente tampouco contam com repertório cultural para tanto), não têm raciocínio matemático desenvolvido, abandonam a escola e repetem de ano.

Há problemas conhecidos que explicam esse péssimo resultado, como a baixa atratividade da carreira de professor, a formação inadequada para o exercício profissional e a falta de investimento em infraestrutura ou em gestão da aprendizagem. Mas certamente a falta de uma definição mais clara do que os jovens podem e devem aprender é parte da questão.

Isso também ocorre em outras etapas da aprendizagem, mas há duas características específicas do ensino médio que tornam mais difícil o desafio. O primeiro é que, sendo a etapa final da educação básica, déficits de aprendizagem dos anos anteriores se acumulam e levam a dificuldades maiores em acompanhar conteúdos dados em maior grau de abstração e complexidade.

Outra característica é a diversidade de interesses, talentos e expectativas próprios da faixa etária, o que colide com o caráter enciclopédico de um curso que tenta, diferentemente do que fazem os países com bons sistemas educacionais, cobrir, numa jornada escolar diminuta, um número exagerado de disciplinas, para atender a interesses corporativistas.

A proposta enviada ao ​CNE avança, nesse sentido, ao organizar os conteúdos em áreas de conhecimento, deixando aos estados a tarefa de detalhá-las na construção de currículos que definam não só os itinerários formativos distintos a serem escolhidos pelos jovens, inclusive a educação técnica e profissional, como as metodologias e abordagens a serem adotadas.

Uma abordagem mais contemporânea deveria também incluir, nesses currículos, uma previsão de interdisciplinaridade —concentrada na resolução colaborativa de problemas do mundo real, numa pedagogia centrada em projetos.

Além disso, deveria prever a retomada de uma educação cívica, que abandonamos em período recente por associá-la à xenofobia e ao autoritarismo, mas que deve, em outros moldes, trabalhar com os jovens, valores e atitudes republicanas e solidárias, que sejam a base para a reconstrução de um país melhor.

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