Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin
Descrição de chapéu Dias Melhores

Voluntariado e transformação, mudando vidas

ONG oferece aulas gratuitas de inglês em favelas ou áreas de vulnerabilidade

No último dia 21, fiz uma palestra para cerca de 600 voluntários de uma organização que nem sequer sabia que existia: o Cidadão Pró-Mundo, uma ONG que oferece aulas gratuitas de inglês em favelas ou áreas de vulnerabilidade em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. 

Nos três estados, a mesma ação competente: uma metodologia estruturada, com livros didáticos e avaliação de aprendizagem de Cambridge, e alunos que saem fluentes ao final de um curso.

O Cidadão Pró-Mundo começou em 1997, em Capão Redondo, na periferia da zona sul de São Paulo, a partir de uma demanda de jovens do bairro. Funciona em espaços cedidos —muitas vezes em escolas públicas—,  impactou diretamente, desde sua criação, mais de 16 mil alunos e mobiliza cerca de 1.600 voluntários.

O que me impressionou inicialmente ao encontrá-los foi a persistência. Conheci, ao longo da vida, muitas ONGs de qualidade variável, mas a taxa de retenção de voluntários entre elas tende a ser baixa, a não ser entre organizações religiosas ou partidárias (o que não é o caso do Cidadão Pró-Mundo).

Algumas, na melhor das boas intenções, primam por certo amadorismo, numa visão de que qualquer coisa feita pelos mais pobres é válida.

Mas o que mais me marcou foi estar em contato com jovens entusiasmados pelo que fazem, ao doar seu tempo, sempre aos finais de semana, para uma empreitada desse tamanho. 

Lembrei-me da célebre frase do Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. A frase significa que, em vez de apenas lamentar ou criticar o que vê de errado no seu entorno, você deveria adotar práticas mais corretas e trabalhar para mudar o que percebe como injusto.

E  a transformação acaba sendo não só da realidade —no caso, a exclusão educacional em que alunos de classe média têm um nível de inglês que os adolescentes mais vulneráveis não terão em condições normais—, como do próprio voluntário, que desenvolve competências e aprende muito no processo. 

Por isso, universidades no exterior (infelizmente as nossas ainda não) e mesmo o mercado de trabalho têm valorizado o voluntariado no currículos de postulantes.  

Há também voluntariado na chamada terceira idade, com idosos ajudando em museus, oficinas de arte ou atuando em escolas. 

Neste último caso, a presença do idoso em salas de leitura ou atividades de contação de histórias ajuda no desenvolvimento emocional de crianças e no estabelecimento de um diálogo intergeracional.

A doação do tempo, com certeza, transforma as vidas tanto dos beneficiários do trabalho desenvolvido quanto dos próprios voluntários.
 

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o material didático utilizado pela ONG Cidadão Pró-Mundo é de Cambridge, não de Oxford.

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