Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Populismo e privilégios, o medo de perder e a raiva do inimigo errado

Corações vão sendo conquistados com propostas simplistas para questões complexas

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De maneira curiosa, o populismo traz uma mensagem atraente para diferentes classes sociais e grupos etários. Ao prometer soluções simples para problemas complexos, incluindo a volta a um passado percebido como glorioso, pessoas da minha geração se encantam com a possibilidade, esquecendo-se de que éramos poucos a usufruir as benesses daquele período lembrado como edênico.

Jovens com escolaridade reduzida ou vivência social —inclusive nas redes— restrita a um círculo de iguais encantam-se com um discurso que irradia coragem e virilidade. 

Precisaríamos, acreditam alguns deles, de alguém com ousadia para contrariar a ordem estabelecida ou o “outro”, culpado por seus insucessos ou pela perda de alguns de seus privilégios de nascimento.

Assim, com certo enxugamento das análises e com a proposta de uma bala de prata para enfrentar os problemas do país, corações e mentes vão sendo conquistados. 

Observe-se que, com isso, os portadores de discursos populistas se eximem da difícil tarefa de definir políticas públicas e de pensar em transições. Afinal, não é suficiente descobrir boas soluções técnicas para os desafios, é necessário construir consensos, dialogar e implantar projetos que levarão anos para gerar resultados.

Parece, nesse sentido, mais fácil propor medidas que se mostrem mais tangíveis e pôr a população a discutir se o transporte de malas deve ou não ser cobrado em voos domésticos ou se a ausência de cadeirinhas de bebê deve resultar em multas de trânsito. 

No premiado livro de 2017, “The Future is History” (o futuro é história), Masha Gessen mostra como a estereotipação de adversários e a simplificação de fatos complexos, com propostas de soluções mágicas para os desafios, jogaram importante papel na antiga União Soviética, fenômeno político que sobreviveu na Rússia atual. É de agora que nos inspiramos nessas abordagens de regimes autoritários?

Não, segundo Lilia Schwarcz. Em seu novo livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, a historiadora e antropóloga evidencia as raízes e a persistência do constructo autoritário em nosso país. O fato de termos convivido com a escravidão até quase fins do século 19 explica, em boa parte, as rígidas estruturas hierarquizadas que construímos e o racismo que tentamos, em nossa mitologia, tornar invisível. 

O recente esforço para diminuir desigualdades levou detentores de privilégios a se sentirem ameaçados e a reagir a uma percepção de perda de acesso a um clube exclusivo. Na verdade, o populismo dialoga bem tanto com os que têm medo de perder privilégios quanto com os que sentem raiva da exclusão, mas atribuem a culpa ao inimigo errado.

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