Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Vencer crises civilizatórias

Precisamos olhar com mais seriedade para nossa crise, admitindo que algo muito sério está ocorrendo

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Em um interessante livro, “Reviravolta”, recém-lançado no Brasil pela editora Record, o premiado biólogo e antropólogo norte-americano Jared Diamond mostra como diferentes países venceram crises nacionais.

Capa do livro "Reviravolta", de Jared Diamond
Capa do livro "Reviravolta", de Jared Diamond - Reprodução

Na maior parte dos casos listados por ele, isso envolveu chegar a um consenso nacional de que a crise existe, aceitar a responsabilidade de enfrentá-la, fortalecer a identidade nacional enquanto se faz mudanças seletivas, fazer avaliação honesta da situação do país e saber lidar com fracassos, entre outras medidas.

A lista se baseia num curioso exercício de tentar relacionar crises de países com as que afetam a vida de um indivíduo. Baseia-se nas experiências de diferentes nações, entre elas o Japão, o Chile, a Austrália, a Finlândia e a Indonésia.

 

Um dos episódios inauguradores de crise citados no livro é o golpe de Estado no Chile, que, justamente nesta semana, completa 46 anos. A derrubada e subsequente morte de Salvador Allende, como se sabe, acabou com uma democracia consolidada, resultando no assassinato de cerca de 3.000 pessoas e no aprisionamento e tortura de dezenas de milhares de outras. Hoje sabemos também que Pinochet, o general que liderou o golpe e ficou no poder após a queda de Allende até 1981, apropriou-se pessoalmente também de milhões de dólares de recursos públicos. Jared Diamond mostra no livro o tremendo esforço que o país fez para sair da crise, reconstituir o governo democrático e curar as feridas abertas.

Mas o que me chamou mais atenção nesse livro é a reflexão que traz sobre crises que, ao eclodirem ou serem prenunciadas, afetam não apenas um país mas vários, senão todos. É o caso típico de danos ao meio ambiente ou crises migratórias. Neste caso, países precisam se unir para discutir o que deve ser feito e, sim, irão se posicionar sobre condutas de outras nações.

Precisamos certamente olhar com maior seriedade para a nossa crise, admitindo que algo muito sério está ocorrendo quando pessoas acham que está permitido combinar uma data para queimar grandes extensões de floresta e assim expandir propriedades. Como vem ocorrendo em outros domínios, foi a fala inconsequente que liberou o gesto.

Temos também que lembrar que, quando queimamos a Amazônia, não só o Brasil é afetado nem mesmo só os outros oito países que detêm parte da floresta. Danos ao planeta afetam o futuro de toda a humanidade. A Amazônia é nossa, mas o que fazemos com ela afeta a todos. E, ou admitimos como país honestamente que isso está ocorrendo e discursos irresponsáveis precisam ser interrompidos, ou nossa crise civilizatória vai avançar ainda mais.

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