Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Taxar os livros ou ler a vida?

Diferentemente de leituras de postagens em redes sociais, livros possibilitam-nos ler sem tomar partido, além de enriquecer e diversificar nosso repertório cultural

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A paixão pela leitura tornou-me não apenas uma leitora voraz mas também uma ativista pela causa. Celebro quando vejo pessoas lendo livros no metrô ou em aviões e estranho a ausência de bibliotecas públicas em boa parte dos municípios brasileiros.

Da mesma maneira, fico surpresa quando, em eventos sociais, pessoas de meios mais afluentes afirmam, com certo orgulho, não se lembrar da última vez que leram uma obra.

A notícia de que o governo federal pretende, diferentemente do que fazem países mais avançados, taxar os livros, pois estes seriam objetos de uso apenas das elites, fez-me desconfiar de que se tratasse de matéria enganosa. Afinal, quem pensaria em torná-los ainda mais caros e inacessíveis?

O acesso a livros é um componente importante das políticas educacional e cultural, pois nos permite, além de adquirir novos conhecimentos, fruir do que de mais belo e instigante a humanidade produziu em literatura.

Quando fui secretária de Cultura em São Paulo, pude implantar bibliotecas públicas em várias cidades do estado e, neste contexto, percebi o fascínio que o livro desperta entre crianças e jovens, especialmente de meios mais vulneráveis.

O “Retratos da Leitura” de 2016, o estudo mais amplo sobre o tema no Brasil, realizado a cada quatro anos, mostra que os brasileiros que consomem livros passaram de 50% em 2011 para 56% em 2015. A quantidade anual de livros lidos por habitante chegou a ser de 4,96. Definitivamente não se trata de um hábito restrito às elites e nem de um número insignificante de livros, mas certamente abaixo do número consumido em países com sociedades com melhores sistemas educacionais que o nosso.

O fato de que a quantidade de livros lidos do começo ao fim não ultrapasse dois livros e meio por habitante-ano, não enfraquece o ponto de que a leitura pode vir a ganhar maior peso no futuro, especialmente se melhorarmos as políticas públicas de livro e leitura.

Para além da não taxação dos livros, é fundamental que sejam construídos programas de fomento à criação de bibliotecas públicas, em que as pessoas possam tanto fazer pesquisas como encontrar uma fonte de informação e de lazer que lhes traga qualidade de vida.

Afinal os livros, físicos ou digitais, nos contam histórias vividas ou imaginadas pelos que nos precederam e podem ser fonte de grande prazer.

Diferentemente de leituras de postagens em redes sociais, livros possibilitam-nos ler sem tomar partido, obter informações científicas, colocarmo-nos no lugar de personagens, enriquecer e diversificar nosso repertório cultural, o que será vital para outras leituras —a de obras de arte e a da própria vida.

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