Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Realengo, a vida de cada criança conta

A vida de cada criança e sua promessa de futuro contam!

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No dia em que escrevo esta coluna, 7 de abril de 2021, completam-se dez anos do chamado massacre de Realengo, em que 12 adolescentes, entre 13 e 15 anos, foram mortos e mais 12 feridos na Escola Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, por um ex-aluno que lá entrara para se oferecer para dar uma palestra. Wellington de Oliveira, então com 23 anos, acumulava, segundo relatos, frustrações e ressentimentos por ter sofrido bullying de seus contemporâneos naquela mesma escola e teria querido se vingar numa nova geração de alunos.

Homenagem às vítimas do massacre na escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro (RJ) - Daniel Marenco/Folhapress

Acompanhei de perto o triste episódio, como secretária de Educação da cidade. Estava, infelizmente, fora do Brasil, para fazer uma palestra em Washington e buscar recursos para a transformação da educação no município, quando recebi a notícia. Não podia acreditar, mas corri para o aeroporto para tentar antecipar meu voo de volta.

Ao chegar ao Brasil, já estava me esperando no aeroporto o então ministro da Educação, Fernando Haddad, e juntos fomos até a escola. Parecia que não apenas a família dos que morreram, mas toda a educação da cidade e do país estava de luto.

Como poderia alguém entrar numa escola e assassinar crianças? As instituições de ensino deveriam ser sacrários onde alunos se sintam protegidos da violência, e não mortas, era o que não saía da minha cabeça. O contato com os professores da escola e com os familiares dos alunos reforçou essa sensação.

Algo pôde ser feito para tentar lidar com os aspectos mais externos do sofrimento de todos, inclusive a reconstrução da escola, com participação dos próprios alunos na definição de características desejadas no ambiente, mas a sensação de perda não foi, certamente, atenuada. O núcleo de psicólogos e psicopedagogos da secretaria também foi mobilizado para dar atenção aos professores, eles mesmos emocionalmente muito machucados com tudo o que se passou. Mas nada apaga o sofrimento vivido e a perda de vidas tão jovens.

Para além do esforço para garantir maior segurança no acesso às escolas da rede e da inauguração de 12 creches, cada uma com o nome de uma das crianças que morreram, ficou uma pergunta difícil: como evitar que alunos afetados por bullying possam acumular feridas que se traduzam depois em desejo de vingança? E aqui, também, a resposta está na educação. Afinal, as instituições de ensino não são espaços para ensinar apenas português e matemática. Elas podem e devem educar para uma convivência pacífica e respeitosa das diferenças que, infelizmente, nós adultos ainda não aprendemos a ter.

Porque, sem dúvida, a vida de cada criança e sua promessa de futuro contam!

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