Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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A África e os livros de uma certa biblioteca"

Fundação Cultural Palmares deveria celebrar a riqueza e diversidade da produção cultural negra

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Comemoramos, nesta semana, o aniversário de nascimento de um dos mais insignes brasileiros, o Machado de Assis, considerado um dos maiores escritores do país e, segundo Harold Bloom, o maior autor negro de todos os tempos.

Mas, embora possamos nos referir a uma África brasileira, como faz Laurentino Gomes em seu segundo volume da obra Escravidão, e Machado nela seria personagem de destaque, há no mundo, no entanto, outros grandes escritores africanos, ou descendentes de africanos, que também merecem estar numa lista de melhores livros produzidos pela humanidade.

O Chinua Achebe, com seu incrível “O mundo se despedaça”, lançado na Inglaterra em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria, é um deles, assim como a Chimamanda Ngozi, também nigeriana, com várias de suas obras, em especial o “Meio Sol Amarelo”, sobre a Guerra da Biafra, escrito a partir de relatos de sua avó.

Em minhas leituras recentes, chamou-me atenção o livro de David Diop, “Irmão de Alma”, em que o premiado escritor franco-senegalês que esteve presente na Feira Literária de Paraty de 2020, retrata, de forma ficcional, a participação do seu povo na Primeira Guerra Mundial, em que seu avô também tomara parte. A obra, traduzida para o português, mostra a loucura da guerra de uma forma que recorda, em alguns aspectos, outro livro escrito sobre o mesmo tema, o “Nada de Novo no Front”, do extraordinário escritor alemão Erich Maria Remarque.

A obra de Diop é também extremamente poética e consegue simular um esforço de tradução do wolof (língua de um dos grupos étnicos do país) para o francês, ao repetir de forma insistente expressões como “meu quase irmão” ou “pela verdade de Deus”.

A pandemia trouxe-me a oportunidade de ler também alguns livros que não conhecia ainda, de afro-americanos, como a Toni Morrison, com seu belíssimo “Amada”, uma das obras a lhe assegurar o Prêmio Nobel de Literatura, ou a obra da poeta Maya Angelou, “Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”.

Mas aproveitei para ler também obras de escritores brasileiros de ascendência africana, como a Conceição Evaristo com seu “Becos da Memória” e o Itamar Vieira que, em “Torto Arado”, escreve sobre duas irmãs que, em meio a tradições como o jerê, vivem em condições de trabalho escravo em uma fazenda na Chapada Diamantina.

O destaque que dou nesta coluna para a literatura de matriz africana é por conta de uma certa biblioteca de uma instituição que deveria celebrar a riqueza e diversidade da produção cultural negra, mas preferiu expurgar primeiro retratos e depois livros. Um deles, um clássico de Machado de Assis.

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