Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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A ilusória perenidade do presente, relatos de dois séculos

Nos livros de FHC e Edgar Morin, diálogos instigantes com a história recente

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Nas próximas semanas teremos dois aniversários dignos de menção: no dia 18 de junho, Fernando Henrique completa 90 anos e, no dia 8 de julho, Edgar Morin comemora seu centenário. Ambos lúcidos e com boa saúde física, tiveram acesso privilegiado e ativo a eventos de dois séculos.

É nesse sentido que são muito bem-vindos seus livros de memórias, lançados em 2021. São, naturalmente, diferentes um do outro, mas passaram ambos por uma militância política combinada com atuação na academia e comentam em seus livros episódios históricos que lhes marcaram a longa vida.
Tanto em "Leçons d'un Siècle de Vie", do incrível filósofo francês, quanto no livro do ex-presidente, "Um Intelectual na Política: Memórias", aparecem os fatos mais marcantes do século 20, seja como relatos de familiares, seja em eventos vividos por cada um dos dois.

Apesar dos diferentes contextos, alguns deles coincidem e merecem interessantes análises. Ambos se referem aos impactos da Segunda Guerra em seus países, sua aproximação e posterior abandono de uma perspectiva stalinista, o impacto das declarações de Khruschov, em 1956, denunciando os crimes de Stálin ou a própria pandemia.

Mas, naturalmente, são vidas distintas, e a de Fernando Henrique dialogou mais com os fatos passados no Brasil. Assim, não é por acaso que ele se refere ao movimento tenentista, de que, por vir de uma família de militares, ouviu de personagens diretamente envolvidos relatos em primeira pessoa. A eleição, no pós-Guerra, de um Getúlio transformado e seu posterior suicídio são já lembranças suas. Escreve também sobre seu ativismo político e sua trajetória acadêmica na USP, junto com outros intelectuais brasileiros e pensadores franceses que tiveram importante papel na constituição do nosso ensino superior, em especial nas humanidades. Ao pensar sobre o presente, uma advertência importante contra "salvadores da pátria".

Morin, francês de ascendência judaico-sefardita, também muito atuante na política de seu país durante parte de sua vida, acompanhou de perto a invasão alemã e a ambígua atuação do marechal Pétain, juntando-se em seguida à Resistência Francesa, ocasião em que adotou o pseudônimo de Morin.

Mas, ao contrário de Fernando Henrique, Morin não se candidatou a postos eletivos. Sua curta passagem pelo Partido Comunista não estava associada à política como profissão, nos termos de Weber.

Nas duas obras, um diálogo instigante com a história recente, resumida em uma lição de vida de Morin. "Aprendi a nunca acreditar na perenidade do presente. A história sempre nos reserva fatos inesperados". Sim, inclusive a Covid.

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