Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Envelhecer aprendendo

No Brasil, além da emergência da pandemia, há a necessidade de requalificar adulto que trabalha ou até promover reinvenção profissional

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No final de 2020, fui convidada a integrar o Conselho de Governança do Instituto de Aprendizagem ao longo da vida da Unesco, sediado na Alemanha.

O instituto trabalha com educação de adultos e imaginei, ao ser convidada, que falaríamos prioritariamente de alfabetização dos homens e mulheres que ainda estão à margem de qualquer ambiente letrado. Afinal, há ainda, apesar da crescente ampliação de acesso às escolas, 750 milhões de adultos no planeta que não se alfabetizaram. E o número deve se manter grande, pois em 2018, cerca de 260 milhões de crianças e adolescentes não frequentavam a escola.

E o Brasil não é exceção. Em 2018, havia 11,3 milhões de pessoas analfabetas com 15 ou mais anos de idade. A taxa de analfabetismo absoluto vem se reduzindo, mas ainda é de 6,8% da população adulta.

Mas, para além da urgência, em especial com a pandemia, de recuperar aprendizagens dos que foram deixados para trás, inclusive os que não lograram se alfabetizar, há outras questões relevantes na educação de adultos. Com a recente crise econômica e o advento da chamada Revolução 4.0, em que postos de trabalho são substituídos rapidamente por máquinas, haverá a necessidade de requalificar adultos que trabalham, por meio de um processo de atualização ou até de reinvenção profissional.

Há, porém, outra questão relevante na aprendizagem de adultos, o que o relatório de 2019 da OIT sobre o Futuro do Trabalho chamou do imperativo de criação de uma sociedade ativa ao longo da vida. Isso significa que o envelhecimento não deveria acarretar a interrupção daquilo que nos dá sentido de propósito, o que nos faz levantar da cama a cada manhã.

Seguramente, a natureza do que se faz pode mudar com a idade, mas o ser humano, para se sentir vivo, precisa de atividades, mesmo que contemplativas. Neste sentido, o recente livro do neurocientista Daniel Levitin, “Successful Ageing”, mostra que, longe de ser necessariamente um período de infelicidade, saudades amargas de um passado glamourizado e doença, o envelhecimento é um processo de transformação que pode ser libertador, não só com a continuidade daquilo que nos agrada, mas com novas aprendizagens. A vantagem é que podemos ler ou estudar o que desejarmos, não apenas aquilo que é instrumental para o trabalho.

A melhor notícia que Levitin nos traz é que o cérebro mantém plasticidade mesmo durante este período simultaneamente desejado e temido. Assim, podemos criar sinapses e adquirir novas habilidades socioemocionais, como abertura ao novo, autorregulação e até empatia. E, melhor ainda, preservar parte importante da memória!

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