Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

A exclusão e o poder da palavra

O poder do discurso que convoca à violência extrapola o que fazem diretamente os líderes

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Lendo declarações mais ou menos nos termos abaixo, chamou-me a atenção a linguagem utilizada e as inferências que dela podemos fazer: “Criança com deficiência atrapalha a aprendizagem das outras”; ou “Universidade não é para todos... sim, filhinhos de papai são os que mais estão na universidade, mas pagam impostos”; ou ainda “inclusionismo”, palavra usada para justificar nossa crescente exclusão, ou, melhor dizendo, para interromper um esforço insuficiente, mas importante, para enfrentar a falta de equidade em educação.

Quando se diz que escolas devem ser inclusivas, isso significa que devem estar abertas para todas as crianças, com deficiência, típicas, de diferentes etnias ou grupos de renda. Isso é não apenas mais justo como ajuda a construir as bases para uma sociedade mais coesa e próspera. Da mesma maneira, isso, longe de atrapalhar a aprendizagem, enriquece a formação das novas gerações, expondo-as a maior diversidade. Afinal, escola não é só um espaço onde recebemos informações a serem decoradas e repetidas em provas.

Para realizar o imperativo ético de uma escola mais inclusiva, há uma dura lição de casa a ser feita, na forma de investimentos em infraestrutura e em formação de professores e, em especial no ensino superior, no apoio aos estudantes para que enfrentem uma desafiadora adaptação a um ambiente que lhes é, em alguns aspectos, hostil. Mesmo assim, o esforço em implementar as políticas públicas necessárias para que isso ocorra foi realizado com sucesso pela maior parte das nações que contam com bons sistemas educacionais.

Aliás, é isso o que estabelece o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, aprovado por 193 nações, inclusive o Brasil. O texto se refere ao compromisso de “assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade” para todos até 2030. Não se trata, como insinua uma das declarações, de uma “mania de inclusionismo” que estaria sendo adotada por parcelas da “academia”, e sim de um compromisso que assumimos.

Lembrei-me também da exclusão ao ler o noticiário sobre o Afeganistão. Excluir as meninas e as mulheres de acesso à educação ou a inúmeros outros direitos é algo inaceitável.

Em sua primeira entrevista, ao assumir o poder, o Talibã negou que isso vá ocorrer, mas, como bem mostra Levitsky em “Como Morrem as Democracias”, o poder do discurso que convoca à violência extrapola o que fazem diretamente os líderes, algo que vem ocorrendo inclusive no Brasil.

Ao conclamar hostes de seguidores a praticarem exclusão e violência, líderes se responsabilizam pelas tristes consequências de seus atos de fala. A palavra exclui, fere e mata.

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