Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Claudia Costin
Descrição de chapéu jornalismo

Democracia, populismo e verdade

É fundamental promover letramento midiático dos jovens e educação para a cidadania consciente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Num interessante livro de 2018, "Democracy and Truth" (Democracia e verdade, em tradução livre), a historiadora Sophia Rosenfeld discute a complexa comunicação entre governantes e cidadãos em democracias. A obra aborda, em perspectiva histórica, alguns temas que vêm hoje povoando as redes sociais, como fake news, teorias conspiratórias, falsidades apresentadas como fatos e fatos como mentiras.

Evidentemente, não é privilégio das democracias ter que lidar com inverdades, afinal governos autocráticos abusaram do acobertamento de situações ou de assertivas que serviam a seus propósitos mesmo não correspondendo à realidade. Mas, em democracias, especialmente nas que assumem características populistas, essas estratégias podem se revestir de outras roupagens.

A autora procura refletir sobre a verdade democrática a partir de experiências vividas nos Estados Unidos, na eleição de Donald Trump, ou no Reino Unido, na votação do Brexit, ocasiões em que a inteligência russa, apoiada pelo que Rosenfeld chama de "fábrica de trolls", desempenhou relevante papel.
O que ocorre hoje no mundo online, alerta ela, não são apenas narrativas distintas de diferentes partidos ou visões de mundo, mas assertivas falsas, com vistas a gerar ódio, ressentimentos e indução a erro por razões políticas ou mercenárias.

O desafiador, nesta situação, é a resposta que damos a essa torrente de falas distorcidas usadas por pessoas públicas para parecerem "um de nós" finalmente no poder. Assim, políticos comunicam-se com o público como se estivessem num boteco, dizendo coisas que, naquele contexto, seus seguidores falariam entre companheiros de folguedo.

Ao se comportarem dessa maneira, suas falas acabam por lhes conferir uma áurea de autenticidade, a de um herói que teve a coragem de romper com um status quo limitado pelo "inconveniente" papel das instituições democráticas. E muitos os idolatram por isso.

A questão é que, nesse contexto, a verdade torna-se pessoal, um sentimento subjetivo que não se diferencia de opinião. Mais do que isso, ela se vê moldada por lealdades grupais. Cada um de nós teria assim sua própria verdade e o líder populista seria o portador da verdade da tribo. Assim, pouca importância teriam as ferramentas de verificação de notícias, já que o que meu líder diz é o que entendo como real, e o viés de confirmação me impede de identificá-lo como erro.

Nesse sentido, se quisermos manter instituições democráticas sólidas e à prova de narrativas falaciosas, é fundamental promover, desde cedo, entre os jovens, letramento midiático e educação para uma cidadania informada e consciente.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.