Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Em tempos de pandemia é importante ciência, mas também sensibilidade

Há diferentes maneiras de ler o mundo, e elas se complementam

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Na semana em que escrevo esta coluna, celebra-se o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, data estabelecida pela Unesco para destacar o importante papel da ciência na sociedade e enfatizar o trabalho dos cientistas ao ampliar nossa compreensão sobre o planeta e tornar as sociedades mais sustentáveis.

Em tempos de pandemia, a celebração ganha um sentido adicional, reconhecendo um exército de pesquisadores que nos permitiu entender as características do vírus que nos assombra e criar vacinas que vêm nos apoiando na prevenção da Covid.

Ora, é nesta mesma semana que mais um caso de negacionismo científico aparece nos noticiários, com graves consequências: na Romênia, terra natal do meu pai, um bispo da Igreja Ortodoxa, principal religião no país, recomendou a seus fiéis que não se apressassem a se vacinar. Será por isso que o índice proporcional de mortes é ali quase 17 vezes maior que o alemão?

Mas a situação das ciências no Brasil não me conforta. Sim, logramos aqui vacinar, depois de uma demora inadmissível, uma grande proporção da população e os casos vêm diminuindo, apesar de falas negacionistas de alguns líderes. Mas, apesar do empenho de nossos cientistas e de instituições como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciência, o negacionismo científico, em vários campos, ainda afeta parte importante da população, normalmente associado a teorias conspiratórias.

Daí a importância de ensinar nas escolas e universidades não só conteúdos associados às ciências, mas sobretudo a pensar cientificamente, desenvolvendo nos jovens uma mente investigativa, para que não se tornem, no futuro, captura fácil por populistas de diferentes matizes.

Mas não é apenas o pensamento científico que importa para promover a paz e o desenvolvimento. A sensibilidade também tem relevante papel, porque nos humaniza. Nesse sentido, são particularmente importantes as artes e a literatura, não só as de cada território, mas em especial as que transpõem fronteiras.

Dois livros me fizeram lembrar disso recentemente. A magnífica obra de Mohamed Mbougar Sarr, senegalês vencedor do prestigioso prêmio Goncourt, "La Plus Secrète Memoire des Hommes", e "The Forty Rules of Love" da escritora turca Elif Shafak. Em ambas, aparecem livros e autores imaginários que as transformam em odes à literatura e ao seu poder de despertar sensibilidade e empatia.

Afinal, há diferentes maneiras de ler o mundo e elas se complementam. A ciência e as artes se combinam para construir a possibilidade de diálogos construtivos no caminho da paz e do desenvolvimento.

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